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Profissionais com estilo político aguçado recorrem à flexibilidade e à argumentação e adoecem menos
"Jogo de cintura" amortece cobranças
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a atual configuração do
mundo corporativo é uma verdadeira fábrica de ansiedade e angústia, o antídoto pode estar na
maneira de se comportar diante
dela, dizem especialistas.
A pesquisa da Isma-BR aponta
que funcionários que adotam um
estilo comportamental político
(tradução do inglês "political
skills") estão menos suscetíveis a
problemas de saúde. No entanto,
dos 61% que enfrentavam conflito
de papéis no trabalho, apenas
38% mantinham essa postura.
Durante o monitoramento dos
funcionários, que teve duração
total de 15 meses, a pesquisa comparou as reações dos que tinham
"estilo político aguçado" às daqueles com "baixo estilo político".
O primeiro grupo apresentava
variações inferiores de ansiedade
cognitiva, desenvolvia menos somatizações do estresse (como taquicardia e boca seca, por exemplo) e tinha pressão sanguínea
mais regular do que o segundo.
Na linguagem popular, o estilo
político nada mais é do que o famoso "jogo de cintura". Ou seja, a
habilidade de lidar de forma bem-sucedida com as diferentes demandas da rotina sem se abalar
nem deixar que os problemas tomem dimensões ainda maiores.
"Trata-se de um conjunto de
técnicas interpessoais usadas para
atingir objetivos. Engloba poder
de negociação, persuasão, capacidade de argumentação e influência", ilustra a psicóloga Ana Maria
Rossi, presidente da Isma-BR.
Postura de surfista
Abandonar a rigidez e os comportamentos ortodoxos são premissas básicas. O cientista político e consultor organizacional australiano Ken O'Donnel compara o
atual cenário do mundo corporativo a uma maré brava, na qual é
preciso "surfar em vez de nadar".
"As capacidades de força e de
controle rígido nos ajudam em
um ambiente passivo como uma
piscina. Assim foi o mundo até o
fim dos anos 80. No mar bravo
das circunstâncias atuais, precisamos de paciência, agilidade e rapidez para pegar a melhor "onda",
além do equilíbrio e do posicionamento correto para nos manter
em pé sobre a "prancha'", afirma.
Adquirir mais conhecimento de
si mesmo é consenso entre os especialistas como a chave do estilo
político. "Esse comportamento
não é uma habilidade inata. Requer muitas mudanças de valores", diz Tatiana Wernikoff, consultora e diretora do IPO (Instituto de Psicologia Organizacional).
Estresse é energia
Fazer o estresse "desaparecer"
do ambiente de trabalho é uma
missão impossível, comentam os
consultores. "O estresse é uma
energia necessária à produção. É
uma resposta do corpo aos desafios. Mas, se passa do ponto, torna-se prejudicial", esclarece Márcio Miranda, especialista em psicologia do trabalho pela USP
(Universidade de São Paulo).
"Não é possível ao profissional
evitar o estresse. O que se deve fazer é aprender a lidar com ele",
completa Ana Maria Rossi.
A pesquisa da Isma-BR aponta
também que os funcionários com
bom "jogo de cintura" encaravam
situações estressantes como
oportunidades, enquanto os demais interpretavam o mesmo cenário como uma ameaça.
"Quem tem estilo político consegue perceber que momentos
graves trazem o embrião de novidades", afirma Mário Sérgio Cortella, que recorre a um antigo provérbio árabe para reforçar a necessidade do estresse: "Homens
são como tapetes, precisam ser
sacudidos de vez em quando".
Poder nas mãos
O principal benefício de ser flexível o suficiente para surfar na
maré de mudanças é ter o poder
de não ser afogado por elas.
Ex-gerente de uma empresa da
área de tecnologia, o engenheiro
George Calafatis, 46, explica que
conduzir o trabalho com jogo de
cintura era "simplesmente a única forma viável de fazê-lo".
"Esmagado" num organograma com cinco superiores e cerca
de cem subordinados ao redor
dele, Calafatis tinha de "amortecer" situações críticas e não sucumbir ao estresse provocado pela síndrome do excesso de chefias.
"Quanto mais importante era a
questão, mais chefes se metiam.
Às vezes, o jeito era dar risada.
Mas eu tendia a encarar momentos extremos como desafio, e isso
me ajudava bastante. Por isso as
pessoas confiavam em mim."
Confiança e credibilidade são
frutos colhidos pelos que adotam
o estilo político, de acordo com a
pesquisa da Isma-BR. Assim como a proteção da própria saúde,
que não fica tão vulnerável aos
males do estresse. Por se conhecerem bem, esses profissionais geralmente enxergam a hora de
acionar a calma para não adoecer.
"Na maior parte do tempo eu
estava ansioso e algumas vezes
me sentia angustiado. Mas ficava
atento aos sinais do corpo, como
dores de estômago. Quando tinha, voltava a me preocupar com
a boa alimentação", diz Calafatis.
Nem sempre era possível manter o equilíbrio pleno. "Ficava tão
focado nas contas da empresa que
esquecia de cuidar bem do meu
dinheiro, por exemplo", comenta.
Apesar de adotar o estilo político, a história dele não teve um final exatamente feliz. Desligado da
empresa, hoje está vivenciando
um processo de transição e pensa
em abrir um negócio próprio.
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