São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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AMAR É PRODUTIVO

Mas rendimento pode cair no começo ou no fim da relação, quando a concentração "foge"

Paixão faz o profissional tentar se superar

LUÍS PEREZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ter funcionários apaixonados é um santo remédio para a produtividade da empresa, na maioria das vezes. Os profissionais tra- balham motivados, otimistas e com mais vitalidade. "A pessoa quer lutar, sobressair", conta Ailton Amélio da Silva, 55, doutor em relacionamento amoroso do Instituto de Psicologia da USP e autor do livro "O Mapa do Amor" (ed. Gente, R$ 31,90).
Assim como Silva, outros especialistas em trabalho e relacionamento defendem o ponto de vista, mas fazem ressalvas: esse fenômeno depende da reação de cada um ao que costumam chamar de processo de "apaixonamento".
Em geral, os períodos mais turbulentos -em que a pessoa fica mais dispersa- são os bem iniciais ou o final. Esses momentos podem ser comparados aos processos de decolagem e de pouso de um avião. No campo afetivo, vêm os "pensamentos intromissores", que fazem algumas pessoas perderem o sono, o apetite, a capacidade de concentração -o que é ruim para a produtividade.
No resto do tempo, em "altitude de cruzeiro", o relacionamento tende a ajudar até em aspectos inesperados, como a motivação para se superar e mostrar ao outro que é alguém de sucesso.
"Quanto mais envolvida a pessoa estiver afetivamente, me- lhor", diz o coordenador do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília), Wanderley Codo, 53.
A psicóloga Tatiana Wernikoff, 61, do Instituto de Psicologia Organizacional, compartilha da opinião: "Já se sabe que, quando se está bem emocionalmente e há maturidade, o namoro só ajuda".

Vizinhos de baia
A separação entre pessoal e profissional ficou no século passado. Nos anos 80 e 90, era mais comum que as empresas proibissem o namoro no trabalho.
"Durante a paquera, o flerte no ambiente de trabalho pode atrapalhar, pois as pessoas procuram subterfúgios para fazerem, juntas, coisas que nem sempre têm a ver com o trabalho", afirma Silva.
Mas as empresas acharam uma fórmula para evitar esse "prejuízo". Para que o envolvimento pessoal não interfira no desempenho, a tendência é que, tão logo o namoro seja revelado, um dos membros do casal mude de área.
"Hoje é de mau tom proibir simplesmente porque, além de ser inviável fiscalizar, é ridículo. É como proibir a lei da gravidade", sentencia Amélio da Silva. "Vira a teoria do fruto proibido, despertará mais interesse." Codo, da UnB, complementa: "No início, as pessoas ficam dispersas de qualquer maneira. Mas, se proibir, é ainda pior".

Ambiente propício
Curioso é que o escritório é um dos locais mais prováveis para iniciar uma relação. Em um estudo, Silva percebeu que a maior parte dos romances começa em ambientes teoricamente antagônicos ao campo afetivo.
De acordo com a pesquisa, 37% dos casais se formam em locais como trabalho e escola ou entre amigos. Outros 32% se conhecem por meio de apresentação, 20%, paquerando desconhecidos, 5%, em encontros acidentais, e 1%, pela internet ou por intermédio de agências de relacionamento.


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