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ENTREVISTA: MICHAEL LEITER
'Os indivíduos devem pensar no que a carreira significa; muitos trabalham sem refletir no que estão fazendo'
Sobrecarga e conflitos de valor levam a 'burnout'
O grau máximo de estresse profissional, conhecido
como "burnout", pode ser evitado se a pessoa realiza
atividades que não estão relacionadas ao trabalho, segundo o psicólogo organizacional Michael Leiter.
Professor da Universidade Acadia, no Canadá, Leiter esteve no Brasil como palestrante do Congresso de
Stress da Isma-BR, que aconteceu no final de junho,
em Porto Alegre (RS). Leia, a seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida à Folha, por telefone.
(MARIA CAROLINA NOMURA)
FOLHA - Quais são as principais
causas do "burnout"?
MICHAEL LEITER - Há seis fatores
que contribuem para esse estresse: 1) a carga de trabalho pesada; 2) o quanto de controle
você tem sobre o trabalho -se
realmente a sua atuação é da
forma como considera ser melhor ou se você tem liberdade
para agir da forma que acha
correta; 3) o reconhecimento
-se o gerente está atento ao
que você está fazendo e demonstra que esse trabalho é
importante; 4) o senso de comunidade -se o relacionamento com os colegas é bom ou
se você vivencia situações de
conflito e discordância; 5) o
senso de justiça -se você está
sendo tratado como os seus pares ou se há algum tipo de discriminação; e 6) os conflitos de
valor, que ocorrem quando você não concorda com os princípios do chefe ou da firma.
FOLHA - Mas quais são as causas
mais comuns?
LEITER - Há duas: a primeira é
ter muito trabalho para realizar
em pouco tempo, quando as
pessoas ficam cronicamente
exaustas não apenas em um,
mas em todos os dias de trabalho. Outro problema pode existir quando as pessoas não têm o
pessoal ou os recursos necessários para realizar aquela tarefa.
A segunda ocorre quando as
pessoas não acreditam na importância do trabalho que realizam ou têm grandes desavenças com o chefe ou o empregador sobre o que de fato é necessário para se fazer no trabalho.
FOLHA - Existe algum trabalho que
seja livre desse estresse?
LEITER - Não. Ele pode acontecer em qualquer profissão. Mas
trabalhos mais intensos e complexos que requerem muita
concentração são mais vulneráveis ao "burnout". Só que as
pessoas que acreditam no que
fazem tendem a agüentar uma
grande carga de trabalho e, como estão muito envolvidas e
muito apaixonadas por determinada atividade, não chegam
a esse nível de estresse.
FOLHA - Quais são as conseqüências do "burnout" para as empresas
e para as pessoas?
LEITER - Para os trabalhadores,
as conseqüências são problemas de saúde. Se estão cronicamente exaustos, ficam mais
vulneráveis a doenças. O "burnout" desencadeia também a
insônia: a pessoa fica com problemas para dormir porque está preocupada com o trabalho.
Para o empregador, a produtividade do funcionário cai e há
prejuízos com o absenteísmo.
As companhias também gastam mais dinheiro recrutando
outras pessoas.
FOLHA - O que as empresas podem
fazer para prevenir esse estresse?
LEITER - As companhias devem
organizar o trabalho da maneira mais eficiente para que as
pessoas não fiquem sobrecarregadas. Ter programas de saúde também ajuda. Mas o empregador deve prestar uma
atenção especial aos valores
nos quais o funcionário acredita e expor, claramente, os princípios e as visões da empresa.
FOLHA - E para os trabalhadores?
LEITER - Ter atividades nas
quais não pensem no trabalho,
como praticar um esporte ou
estudar música. Pessoas que
têm família experimentam menos "burnout" do que outras
porque elas têm de prestar
atenção aos filhos, e isso é muito importante. As crianças pedem atenção e requerem muita
energia. E não se trata apenas
do nível de energia, mas
como você a deposita naquilo
com que se preocupa.
FOLHA - O "burnout" é um conceito da modernidade ou ele sempre
existiu?
LEITER - Acho que ele sempre
esteve presente, mas a sofisticação da educação e a tecnologia agravaram o estresse porque, atualmente, é mais difícil
desligar-se do trabalho por causa dos telefones celulares e dos
computadores portáteis.
FOLHA - Como encontrar o meio-
termo entre trabalho e vida pessoal?
LEITER - Os indivíduos devem
pensar mais em si mesmos e no
que a sua carreira realmente
significa. Acho que as pessoas
vão ao trabalho sem refletir no
que estão fazendo com suas vidas, para onde estão indo.
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