|
Próximo Texto | Índice
NA MIRA
Fraudes corporativas e mudanças tributárias aumentam demanda por profissionais
Oferta de empregos na área fiscal cresce 10%
SILVIA BASILIO RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O impacto da fraude corporativa da Parmalat se alastrou rápido
mundo afora. Revelado em dezembro, o escândalo contábil da
empresa italiana não poupou a
subsidiária brasileira, que pediu
concordata. E gerou um efeito colateral: colocou em foco contabilistas, auditores e controladores.
Maior cobrança sobre os profissionais que atuam nessas áreas foi
uma das conseqüências imediatas
geradas pela eclosão de fraudes
corporativas, que teve se deu há
dois anos, época do escândalo da
Enron. Aumentaram as fiscalizações, o rigor no cumprimento dos
princípios contábeis e as punições
às más condutas.
O segundo efeito é previsível:
o surgimento de novas vagas, já
que as empresas estão deixando o
amadorismo de lado e contratando profissionais qualificados para
orientar seus negócios. Estimativa
do Grupo Foco, consultoria de
RH (Recursos Humanos), aponta
que, no Brasil, a movimentação
do setor também é grande. Cresceu entre 8% e 10% a oferta de
empregos nas áreas fiscal, financeira, tributária, de controladoria
e de contabilidade no segundo semestre de 2003, em relação aos
seis meses anteriores. "A demanda aumentou em razão das mudanças tributárias e fiscais no Brasil", justifica João Canada, vice-presidente-executivo do grupo.
Popularização
De acordo com o contador e advogado José Carlos Alcântara, 46,
da Ability Auditoria e Consultoria, as consultas de clientes aumentaram 40% nos últimos dois
anos. "Trabalho dez horas por
dia. Jornada de oito horas não é
mais suficiente atualmente."
Neli Barboza, da consultoria
Manager, que presta serviços na
área de RH, aponta que, com a retomada da economia, os empresários sentem hoje a necessidade
de elevar o controle sobre seus
custos, daí a forte procura por
contadores, sobretudo nos níveis
de supervisão e gerência.
O consultor de gestão de negócios Carlos Bizarro avalia que a
área de controladoria ainda está
distante dos quadros de funcionários das pequenas e médias empresas. "Os escândalos internacionais serviram para alertar mais
o Brasil para a necessidade de ter
bons controladores." Para ele, a
tendência é a popularização da figura do controlador no país.
Caixa dois
No Brasil, novas regras que visam a qualidade das informações
econômico-financeiras começaram a ser implementadas antes
mesmo do auge das fraudes corporativas internacionais. "Hoje
está mais perigoso para um contador efetivar lançamentos que
não estão de acordo com a legalidade", opina Bizarro.
Embora a cultura do caixa dois
(omissão de informações visando
o não-pagamento de impostos)
ainda seja comum no país, especialistas dizem acreditar que as
empresas que sonegam tributos
são cada vez mais evitadas pelos
profissionais.
Foi justamente essa cautela que
fez com que A.N., 34, (não quer se
identificar), estudasse bem o terreno antes de aceitar convite para
dirigir o departamento de contabilidade de uma companhia de
São Paulo, cujo faturamento
mensal é de R$ 3 milhões.
"Fiz um levantamento do balanço e vi que a empresa possuía
um caixa dois expressivo. Com
base nisso, resolvi não aceitar a
proposta. Prezo por contas transparentes, não me envolvo em casos assim", afirma o contador.
A complexidade da legislação
de impostos no país obriga a atualização permanente desses profissionais. No caso de empresas
multinacionais, a tarefa é dupla: é
preciso dominar também as leis e
os procedimentos adotados no
país-sede da companhia.
Próximo Texto: Sem ressalvas: "Busco a transparência" Índice
|