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'EMPREGABILIDADE'
Alta cúpula já não é mais tão segura
Risco de demissão é o maior temor para quase 1/3 dos dirigentes das empresas;
recolocação no mercado está mais difícil
Quem ocupa posição na linha de frente das companhias não tem mais aquela
aura de profissional "intocável".
Pesquisa de maio da consultoria
de gestão Booz Allen Hamilton
mostra que as demissões dos chamados CEOs (Chief Executive Officers, principais executivos) cresceram cerca de 70% em 2002 em
comparação com o ano anterior.
O universo pesquisado não deixa dúvidas de que a instabilidade
chegou aos tops: as 2.500 maiores
empresas abertas do mundo.
No Brasil, os reflexos já podem
ser sentidos. O levantamento do
Datafolha aponta que o maior
medo dos entrevistados é o de
perder o emprego (29%), seguido
da possibilidade de fracassar ou
de não cumprir metas (12%).
Não é à toa. Pesquisa da DBM,
especializada em "outplacement"
(recolocação promovida pelas
empresas), mostra que o tempo
para se reempregar aumentou.
Há 15 anos a média era de quatro
meses. Nos últimos 12 meses, executivos levaram em média meio
ano para conseguir uma vaga.
"Há muita gente competente na
rua. Estabilidade transformou-se
na capacidade de estar no mercado e produzir resultados", observa Vicky Bloch, 51, presidente para a América Latina da DBM.
A explicação econômica e racional é que as organizações hoje têm
de produzir o máximo com o menor número de pessoas possível,
em nome da competitividade.
A conjuntura não facilita: há
poucos investimentos de peso a
longo prazo no mercado global, e
as companhias reduziram as suas
margens de lucro. As consequências são conhecidas: cortes vêm, e
postos deixam de ser criados.
Claro que o temor não atinge o
executivo da mesma forma que o
profissional sem cargo de liderança, até porque saber lidar com -e
sobreviver a- desafios e pressão
é pressuposto para a função. Mas
especialistas deixam nítido que a
época da "fartura" acabou.
"Essa é uma questão mundial e
real", afirma Simon Franco, presidente da consultoria TMP World
Wide na América Latina.
"Você não consegue dar trabalho para todos, e as crescentes fusões exemplificam isso. Duas curvas se cruzam: a do aumento da
força de trabalho e a da redução
das vagas, o que gera esse déficit
de postos", argumenta Franco.
Luiz Carlos Cabrera, consultor e
professor da Eaesp-FGV (Escola
de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getulio
Vargas), levanta outra questão:
"O emprego saiu da mão do capital para a do cliente, e a empresa
não pode mais dar garantias".
O retorno
Telecomunicações, após a fase
das privatizações, é uma das áreas
mais difíceis para se recolocar. A
de exportação está entre as que
oferecem mais oportunidades, dizem os consultores. Mas a máxima desses especialistas continua
sendo a de que o profissional de
talento não fica sem trabalho.
Seja presidente, seja professor,
seja empresário, quem conhece
suas competências, sabe seu valor
e tem bons relacionamentos não
fica parado. "O profissional demitido tem de entender que isso faz
parte da dinâmica atual e deve
traçar a estratégia para o próximo
emprego", afirma Robert Wong,
"headhunter" da Korn/Ferry.
(PAULA LAGO)
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