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SOBREVIVA AO PRIMEIRO DIA
Consultores dizem que prática usada para quebrar tensão não funciona com tímidos
Trote visa à integração, mas pode gerar desforra
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Embora pareça impróprio para
o ambiente profissional, trotes
como os universitários fazem parte do plano de boas-vindas de
algumas empresas. André Regazzini, 33, consultor de segurança
da informação, foi vítima de uma
dessas "brincadeirinhas" quando
assumiu um cargo de gerência em
uma empresa de telefonia.
"Logo de cara, fui avisado pelo
diretor que a empresa estava com
problemas de espaço e de móveis.
Ele mesmo me apresentou o meu
lugar: um gaveteiro menor que a
cadeira, enfeitado com um vaso,
um porta-lápis e uma placa com o
meu nome e o meu cargo."
Em seguida, outra surpresa. "Eu
teria de usar um fone de ouvido ligado à comunicação entre seguranças e office-boys. Disseram
que era uma ordem." O próprio
presidente, segundo conta Regazzini, confirmou a obrigatoriedade
do uso. "E ainda me deu uma
bronca, no meio de uma reunião,
quando resolvi tirar o fone para
tentar prestar atenção na discussão. Comecei a acreditar que tudo
aquilo fosse verdade", conta.
No final do dia, todos o esperavam em um bar para dar as verdadeiras boas-vindas. Constrangimentos à parte, Regazzini afirma
que o trote facilitou a integração.
"Fiquei conhecendo todo mundo,
não esqueci mais os nomes."
O lado positivo apontado por
ele existe. Na opinião do presidente da Manager Assessoria em
Recursos Humanos, Ricardo de
Almeida Prado Xavier, a brincadeira que passa uma mensagem
boa ao funcionário é válida. "Se o
objetivo for uma melhor integração, não vejo problema."
O consultor ressalta, contudo,
que esse é um assunto delicado e
que deve ser muito bem analisado
pelas corporações. "Se o profissional tiver um perfil mais extrovertido, provavelmente o resultado será bom, mas conheço casos
em que a pessoa pediu demissão
no primeiro dia porque não
agüentou a pressão do trote."
No sistema bancário, o trote
também tem vez. "No meu primeiro dia como escriturário do
banco, me disseram que havia
uma diferença em um dos caixas e
que eu deveria ir até outro setor
buscar uma máquina para ajudá-los a descobrir o erro", conta Lucas Amorim Escorcio, 21.
Depois de ficar um tempo às
voltas com papéis e formulários,
retornou à agência de mãos vazias. "Estavam todos me esperando para ver a minha reação. Levei
numa boa. O funcionário que pregou a peça é meu amigo até hoje."
Outros olhos
"Já vi brincadeiras como essa
gerarem um clima ruim, de vingança. A pessoa mais estourada
pode até querer descontar, no futuro, o que lhe fizeram passar",
explica João Canada, vice-presidente-executivo do Grupo Foco.
Para ele, esse tipo de processo
sempre trouxe mais desrespeito
que integração. "Embora até exista uma vertente positiva, quase
sempre impacta no aspecto psicossocial da organização."
Contudo, ele acredita que é possível reverter a situação utilizando
o trote a favor da empresa e do
contratado. "Em vez de fazer um
funcionário rodar a empresa o dia
todo atrás de um documento que
não existe, por exemplo, a brincadeira poderia durar bem menos
tempo, o suficiente para fazê-lo
conhecer os departamentos.
Além de não desperdiçar o tempo
da pessoa, a medida evitaria que
todos os espectadores também
paralisassem suas atividades."
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