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DE PAVIO CURTO
Com o desânimo "minando" a performance dos candidatos, quem não se abala tem mais chances
Persistente leva vantagem sobre os "ariscos"
DA REPORTAGEM LOCAL
Que a situação de desemprego
no país é alarmante todos já sabem. Porém, a maneira como cada profissional reage a ela é o que
definirá as suas chances de sobrevivência, alertam os especialistas.
Afinal, "soltar os cachorros" no
meio de um processo seletivo
continua sendo a maneira mais
rápida de ser descartado.
Na opinião de Thomas Case,
fundador do Grupo Catho, nervosismo, ansiedade e angústia são
companheiros inevitáveis de
quem busca recolocação. Mas se
entregar ao desânimo é uma atitude a ser firmemente combatida.
Para quem acha que a medida é
impossível, Case defende que há
uma razão matemática para manter a esperança: "A filosofia do "eu
tenho poucas chances" é completamente infundada", comenta.
"Mais de 50% dos recrutamentos
envolvem um número máximo
de cinco pessoas. Na prática, as
chances em cada processo de seleção são de cerca de 20%", avalia.
A teoria de que a persistência
traz vantagens tem alguns exemplos práticos. Uma semana depois de enfrentar suposta seleção
para professora -que, na verdade, rendeu-lhe uma oferta como
vendedora- Zenaide Poludo viu
outro anúncio parecido no jornal.
"Hesitei em ir, sem acreditar
que a posição existisse, por causa
do que tinha passado antes." Ainda assim, Poludo venceu a incredulidade, entrou na seleção e acabou conseguindo o emprego de
professora de teatro que queria.
"Fui ver para crer", conta.
Já a experiência de B. (que pediu
para não ser identificado), 25, que
procura uma vaga na área de informática há cerca de oito meses,
mostrou o contrário: ele foi descartado porque, segundo os selecionadores, assumiu um comportamento "inadequado".
"Era a segunda empresa que eu
visitava no mesmo dia, e tinha saído com muita raiva da primeira
entrevista." Nervoso, ele acabou
expondo a irritação com provocações aos outros candidatos durante a dinâmica de grupo. "A
psicóloga me chamou, comentou
o fato e disse que eu estava fora."
O estudo sobre desemprego do
Grupo Catho aponta ainda um
dado inusitado sobre rejeição de
vagas. De acordo com a pesquisa,
44,73% dos executivos desempregados já recusou uma proposta de
trabalho recebida durante o período de desemprego. O índice
sobe para 55% entre diretores.
A baixa remuneração foi o principal motivo (52,11%) para a recusa da proposta de emprego. Outros 20,08% dos executivos ouvidos disseram que não gostaram
do trabalho oferecido, e 16,62%
reclamaram da distância entre a
residência e o emprego.
Criatividade
Há dez meses procurando uma
vaga na área de marketing, Hen-
riane Morelli, 33, acabou inventando algumas soluções para não
ser tomada pelo desespero. E a
idéia foi construída justamente a
partir da via aberta por vagas que
ela recusava disputar.
"A maioria dos telefonemas que
recebo é para posições que não
me interessam. As empresas oferecem emprego de recepcionista e
de balconista, ou cargos de gerência com salário muito baixo."
Nesse casos, Morelli costuma
aproveitar o contato telefônico
para "investigar" ao máximo qual
é a real necessidade da companhia. "Se for viável, ofereço um
serviço de consultoria que pode
ser útil. Deu certo algumas vezes."
A profissional comenta que, no
cenário atual, os papéis de selecionador e candidato de certa forma
"se inverteram". "Virou uma via
de mão dupla. Hoje, nós -que
estamos procurando-, já filtramos as vagas e assumimos uma
postura mais ativa no processo."
Para o ano que vem
Desligado em agosto de 2002 da
empresa em que trabalhava, o técnico em eletrônica Rafael Minhoto, 38, aproveitou os primeiros
meses de desemprego para concluir a faculdade de tecnologia.
Para se manter, fez "alguns bicos"
na área de atuação, conta.
De lá para cá, com as reservas financeiras se esvaindo, Minhoto
voltou a batalhar um lugar ao sol
no mercado. "Espalhei currículos,
mas não consegui nada. E os "bicos" foram diminuindo também.
Isso causa muita irritação, mas
tento manter a cabeça no lugar.
Acho que só vou conseguir uma
oportunidade no ano que vem."
Já o engenheiro de segurança do
trabalho Gilberto Bressiani, 45,
admite que, a cada vez que volta
de uma das duas entrevistas de
emprego que costuma fazer semanalmente, sente que está menos estruturado para a espera.
"A cada decepção vou ficando
mais incrédulo. Já estive desempregado em outros períodos da
carreira, mas nunca foi tão difícil
quanto desta vez", comenta.
Em diversas situações, Bressiani
abandonou a seleção, retirando-se da companhia sem falar com
mais ninguém. "Se espero mais de
uma hora no local sem ser atendido, já começo a me sentir muito
desgastado. A partir daí, geralmente vou embora", explica.
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