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PÓS-GRADUAÇÃO
Explosão da oferta de cursos com a sigla e dificuldades econômicas reduzem efervescência do setor
Concorrência e crise freiam alta do MBA
FERNANDO SANTOMAURO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O mercado de MBAs (Master in
Business Administration) está em
fase de transição no país. Após a
explosão da oferta de cursos de
todos os tipos e níveis nos últimos
anos e sentindo os efeitos da crise
econômica prolongada, o setor já
não registra a mesma efervescência na relação candidato/vaga.
"Não teremos mais a alta procura pelo curso, como acontecia nos
semestres anteriores, causada pela demanda reprimida do mercado. Atualmente existe uma tendência de estabilização do fluxo
de candidatos", constata Joel Dutra, coordenador dos cursos de
MBA da FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo).
Além das mudanças na proporção oferta/procura, "o processo
econômico que vivemos no ano
passado teve reflexo no mercado
de MBAs", lembra o coordenador
do MBA Executivo da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), Tharcisio Souza Santos.
Sem financiamento
Santos afirma também que as
empresas, diferentemente do que
faziam nos últimos anos, hoje estão menos dispostas a financiar o
MBA de seus funcionários.
Irineu Gianesi, coordenador do
curso executivo do Ibmec Educacional São Paulo, concorda: "Há
três anos as firmas pagavam parte
dos estudos de cerca de 80% dos
nossos alunos. Hoje o índice caiu
para perto de 50%".
É o caso de Carla Melina, 27, que
passou a pagar sozinha o MBA,
após deixar o emprego e perder o
subsídio da empresa. "E ainda tive de reembolsar à companhia os
valores que foram pagos", conta.
A despeito dos sinais de transição, dez escolas consideradas
"tradicionais" no mercado consultadas pela Folha (confira quadro nesta página) mantiveram a
mesma proporção candidato/vaga nos últimos três semestres.
O cenário ainda é considerado
bom nas escolas de primeira linha, mas, segundo Ana Paula Maniquini, coordenadora da BSP
(Business School São Paulo), os
cursos com menor qualidade devem sofrer duros golpes.
Luca Morroni, coordenador do
curso da Escola de Direção de
Empresas Fisp, completa: "A proliferação desmedida de cursos
que não têm qualidade é gritante.
Os de curta duração, que não obedecem ao programa de matérias
que caracterizam o MBA, não podem ser chamados de MBA".
Hoje o país contabiliza mais de
500 cursos do tipo com diferentes
perfis. A maior parte é de programas de especialização em áreas
específicas da administração,
com duração reduzida (de nove a
18 meses) e voltados a alunos com
pouca experiência profissional.
Esses cursos de especialização,
que também se autodenominam
MBAs, têm processos de seleção
mais abrangentes, que não exigem grande conhecimento, no
que se diferenciam bastante do
formato tradicional do sistema.
Grande parte desses cursos foge
ao padrão da sigla, apresentando
diferenças na duração, no conteúdo e no objetivo do aprendizado.
Modelo importado
O primeiro MBA do mundo foi
criado em 1905, na Universidade
de Harvard (EUA), como um curso de pós-graduação que daria
uma visão geral sobre o funcionamento das empresas, proporcionando ao aluno trânsito em todas
as áreas da administração.
O curso era longo: exigia dedicação total por um período que ia
de 600 a 1.000 horas/aula. A partir
dos anos 50, o modelo de MBA
mudou para o que hoje é chamado de "formato executivo", que
tem em média até 500 horas/aula.
No Brasil, desde o final dos anos
80 a oferta desses cursos vem crescendo. A inspiração é o modelo
americano voltado ao alto executivo que busca uma noção ampla
de todas as áreas da empresa.
Nesses casos, o curso tem maior
duração (variando de 15 a 24 meses) e, na maior parte, inclui módulos em universidades estrangeiras (cobrando preços que variam de acordo com o dólar).
Esse tipo de MBA tem turmas
consideradas mais "seletas". A seleção exige carta de recomendação, histórico escolar e entrevista.
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