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FORA DO MERCADO
Qualificados, deficientes relatam dificuldades
Funções aquém da formação e preconceitos são empecilhos
ANDRÉ LOBATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Escassez de oportunidades e
preconceito são obstáculos relatados por pessoas com deficiência que buscam trabalho.
Mesmo no caso de profissionais qualificados, ter diploma
universitário ou curso superior
em andamento não reduz
as dificuldades.
Falta de acessibilidade, atribuição de funções aquém das
suas habilidades e desrespeito
são alguns dos problemas
encontrados por profissionais
ouvidos pela Folha.
A biblioteconomista Helena
Maranhão, 27, que teve paralisia cerebral e fala e se movimenta com dificuldade, diz ter
sido isolada do público em seu
último emprego, em uma
biblioteca de São Paulo.
Lá, onde trabalhou por três
meses, a carteira de trabalho
registrava "auxiliar de serviços
gerais". Mesmo desempenhando uma função mais qualificada -Maranhão fazia pesquisa
para novas aquisições-, a profissional conta que teve de ficar
em uma sala fechada.
"Se a empresa tivesse preparo, eu estaria no balcão, em
contato com os usuários."
Moradora do Itaim Bibi (zona oeste), Maranhão tem acesso a tratamento médico e a um
acompanhante para voltar para
casa depois do serviço.
Mas, na empresa em que trabalhou e de que foi demitida
por "não atender às expectativas", ela não tinha acesso a um
teclado especial, o que agilizaria seu trabalho.
Apesar de concorrer a vagas
reservadas a deficientes, a profissional recebe ligações que
mostram o despreparo de recrutadores. "Perguntam se estou bêbada. Nunca pensam que
é a minha voz normal", diz.
Acesso
Fernanda Bucci, 25, cursou
psicologia até o segundo ano na
Unip (Universidade Paulista).
Moradora de Perdizes (zona
oeste), fala e se locomove com
dificuldade, devido à falta de
oxigenação que sofreu no momento do parto.
A profissional ressalta que
pode assumir muitas funções,
mas, para isso, precisa de um
mínimo de acessibilidade.
Ela conta já ter ido a mais de
20 entrevistas de emprego desde que saiu da empresa do pai,
em 2007. Mesmo lá, sendo filha
do dono, conta que o preconceito era grande. "Tinha dificuldade para que cumprissem
as minhas ordens", afirma.
Outros profissionais relatam
que, mesmo quando conseguem uma vaga, são alocados
em funções que estão aquém
da sua qualificação.
A jornalista Leandra Migotto, 31, cadeirante, diz que foi
"subaproveitada" na emissora
de TV em que trabalhou. "Colocaram-me no telemarketing,
não me deram chance", relata.
Já o estudante maranhense
Alex Pereira, 33, desistiu de
procurar emprego na iniciativa
privada, depois de ter sofrido
gozações em um trabalho. Ele
pretende terminar a faculdade
de jornalismo e prestar um
concurso público.
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