São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004 |
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MESA-REDONDA Especialistas debatem mercado de trabalho
DA REDAÇÃO
BUSCA DE EMPREGO Wong - Quando diz a palavra "procura", a pessoa parece não saber ao certo o que quer. O que nós temos notado é que, na maioria dos casos, olhando o currículo de uma pessoa, você percebe que quase 100% dos empregos dela foram obtidos de forma reativa. Ou seja, alguém tomou uma iniciativa, e ela reagiu diante dessa oportunidade. O ideal seria dizer "buscar" um emprego. É raro alguém fazer isso de forma proativa. Guimarães - Olhando para os
programas de trainees, percebemos que os jovens se inscrevem
em todos eles. Eles não projetam. Novais - Nossa cultura é paternalista. A pessoa pede um emprego,
e a empresa o dá a ela. A mentalidade de procurar de uma forma
focada ainda não existe. Guimarães - O mercado tem ferramentas que ajudam as pessoas a
descobrir o que gostam de fazer e
que competências têm. Mas elas
não fazem esse levantamento. Franco - A pessoa está embaixo
de todo o mecanismo do mercado
[que obriga as empresas a serem
mais competitivas]. Se não apresentar resultado, não tem jeito. PERFIL Wong - A autoconfiança faz a diferença. E o que nos dá autoconfiança é o autoconhecimento. Só que a maioria das pessoas não se conhece. Guimarães - Há cinco características fundamentais: o autocontrole, a capacidade de influenciar
pessoas, a de comunicar, a de
abrir mão de algumas coisas e a de
antecipar o que vai acontecer. QUALIFICAÇÃO Wong - É ingênuo pensar que todo mundo faz tudo por paixão, porque, para muitos, trabalhar é realmente uma questão de necessidade. Mas posso mudar minha atitude ante as coisas. Se a única oportunidade que aparece em um determinado momento é a de empacotador, vou aceitar e ser o melhor porque isso vai proporcionar outras opções. A diferença está na atitude. É difícil você fazer as coisas da melhor forma possível e ninguém notar. Novais - Antes, um diploma garantia um emprego na área. Hoje,
a concorrência é bem maior. É
por isso que há a necessidade de
se aperfeiçoar tanto. É possível
que as pessoas, mesmo com um
certo diploma, tenham de trabalhar em funções "inferiores" à
qualificação que têm. Franco - Vamos ser práticos: se
alguém coloca um anúncio no
jornal e aparecem 50 pessoas com
todas as características pedidas,
como é que se vai decidir? A verdade é que se escolhe o sujeito cuja atitude é a mais adequada. Só
que ele não sabe que atitude é essa, muito menos que será escolhido por meio desse critério. Em entrevistas, percebo que as pessoas
vêm muito na defensiva. Elas querem que a gente vá revelando informações para que possam assumir a cor do camaleão mais adequada. Só que o entrevistador
também tem um problema: vai
ser cobrado para preencher a vaga
rapidamente e torce para que
aquele candidato seja a pessoa
que ele procura. Wong - Existe aquela frase que
diz que "raramente você tem uma
segunda chance de causar uma
boa primeira impressão". Mas
uma pessoa causa uma boa impressão quando é ela mesma. Franco - O problema é que, em
geral, a pessoa vai para uma entrevista de emprego insegura.
É difícil ter essa autenticidade.
O mercado tem oportunidades
em grande quantidade para as
pessoas altamente qualificadas,
mas elas não se oferecem a pessoas desajustadas, que têm problemas de atitude. Empresa não é
igreja, empresa foi feita para vencer. Ela não vai contratar o sujeito
que não é o melhor. Novais - Na minha opinião, a
perda de emprego é o segundo
maior estresse que se tem na vida,
atrás apenas da perda de uma pessoa muito próxima. Com ele, vem
o medo de não arranjar outra coisa. Ninguém está preparado para
perder o emprego. |
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