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SABOTAGEM
Forma como é tratado pelo chefe e ausência de promoção ativam lado "nocivo" do funcionário
Insatisfeito, empregado se "vinga" do patrão
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Funcionário frustrado ou decepcionado com a empresa é capaz de coisas que o patrão nem
imagina. Com sede de vingança, a
mais inocente recepcionista pode
se transformar em uma sabotadora de altíssima periculosidade.
Dependendo das informações a
que tem acesso, o empregado pode prejudicar bastante a empresa,
afirmam consultores de comportamento organizacional. E o "poder de fogo" nem sempre é proporcional à importância dada pela empresa ao trabalhador. Um
porteiro que esconde intimações
judiciais, por exemplo, pode causar um prejuízo de milhões.
"A sabotagem ocorre em todos
os tipos de empresa, e não só nas
indústrias", diz o psiquiatra Márcio Funghi Barbosa, consultor
empresarial e estudioso do tema.
"Outro engano é achar que ela
sempre tem razões políticas. Na
verdade, há motivos variados,
muitos deles ligados a revoltas
e a insatisfações pessoais."
Para Peter Frost, professor de
comportamento organizacional
na Universidade de British Columbia, no Canadá, quando as
pessoas acreditam que estão
sendo tratadas injustamente, principalmente por
seus superiores,
podem se revoltar
e tentar "empatar
o jogo". "Uma vez
que a lealdade foi
destruída, o funcionário fica mais
propenso à sabotagem", diz.
Segundo o psiquiatra e consultor Isaac Efraim, a
inveja, que tem
sua raiz no ambiente de competição, é outra causa da sabotagem.
No local de trabalho, isso aparece
nas críticas, nas atitudes de má
vontade, nas fofocas e
até em complôs armados para prejudicar o invejado, diz o
médico. "O tropeço
do outro passa a ser o
maior prazer."
"É de graça"
Com salário mensal
de R$ 600, C., 21, deu
em poucos dias um
prejuízo de R$ 800 à
escola de informática
em que trabalha, no
Rio de Janeiro.
Ela explica que a escola dá um prazo para que os alunos façam a prova final do curso. Quem perde a data
ou é reprovado tem nova chance
de fazer o exame, desde que pague
taxa de R$ 40. "Liberei a taxa para
mais de 20 [alunos]. Mas foi por
raiva, não é algo que eu vá fazer
sempre", argumenta.
O motivo da irritação, diz ela, é a
diferença com que a firma trata
cada funcionário. "Há incentivos
e treinamento para alguns empregados, mas não para todos. Meu
chefe diz que não me dá aumento
porque meu departamento [o administrativo] não dá lucros."
"V de víbora"
Já M., 27, assistente de marketing, conta que tinha vários atritos
com sua chefe. "Ela sabia menos
sobre o trabalho do que eu."
Prevendo que seria demitido,
resolveu se "divertir": criou o blog
"V de víbora" (inicial do nome da
chefe) para fazer piadas sobre a
inteligência dela.
O endereço foi
informado a colegas escolhidos estrategicamente.
"Depois de um
tempo, ela pediu
demissão alegando razões pessoais. No último
dia, me mandou
embora. Mas valeu a pena."
A professora de
educação física
T., 26, não recebia
seu salário há três
meses. "Decidi
dar o troco. Não
foi a primeira vez que trabalhei
em escola que não pagava, mas
nessa o diretor era arrogante e
prepotente", justifica.
Primeira medida: passou a liberar os alunos mais cedo e riscou a
palavra disciplina de seu vocabulário. "Os alunos faziam o que
queriam. O barulho da aula atrapalhava a escola inteira."
Segundo passo: querendo ser
demitida, chegava atrasada à escola e faltava a reuniões. "O diretor não me demitiu, acredita?"
Veio então a cartada final. "Espalhei aos quatro ventos que ele
era trambiqueiro. Falei isso para
os alunos, para as mães, falei até
no salão [de beleza] do bairro."
Resultado? "O diretor estava
tentando comprar uma outra escola do bairro, mas o negócio não
deu certo por minha causa. Foi
minha maior maldade", conta ela.
De olhos bem abertos
O empresário Steven Kahn, 49,
dono da FuturaTech, que fabrica
artigos para decoração de eventos, conta que já enfrentou alguns
problemas com o vazamento de
informações estratégicas. "Agora,
agimos para conscientizar os empregados de que eles também perdem quando a empresa perde."
Décio Almeida Franco, gerente
corporativo de RH da Multi Participações, que, entre outros produtos, fabrica cigarros e adoçantes, diz que a empresa tem buscado sensibilizar os funcionários
para uma "cultura organizacional", mas que os trabalhos na linha de produção são fiscalizados.
Na operação das máquinas, um
funcionário poderia alterar com
facilidade o ritmo de produção ou
a medida para o corte dos cigarros. "Temos supervisores, mas evitamos o
clima de policiamento. A política é confiar
no empregado."
A origem da palavra
sabotagem está ligada
à palavra francesa
"sabot", que significa
"tamanco". Há quem
diga que o termo nasceu no século 19, na
França, quando operários em greve jogaram tamancos nas
engrenagens das máquinas, impedindo
seu funcionamento.
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