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ASSUNTO DE FAMÍLIA
Comunicar às crianças evita que elas ponham em xeque a sinceridade do relacionamento
Crise não é individual e deve ser repartida
DA REPORTAGEM LOCAL
Longe de instituir uma situação
de alívio, dissimular a perda
do emprego para a família geralmente se converte numa fonte
de tensão, estresse e angústia.
Além disso, a medida é duplamente perigosa. Isso porque anula a sintonia com uma potencial
fonte de amparo e de estímulo capaz até mesmo de auxiliar a caça a
novas posições. Por isso abrir o
jogo continua sendo o melhor caminho, por mais difícil que seja.
"A perda do emprego é uma crise familiar, e não só pessoal. Mesmo quando a reação é esconder, a
comunicação acontece por outras
vias que não a verbal", observa a
psicóloga Natércia Tiba.
O consultor Luis Fernando Garcia concorda e completa: "Na psicologia analítica, o núcleo familiar
é apontado como o elemento que
"dá continente" ao indivíduo
quando ele se encontra à deriva".
Garcia, que
acompanhou o
desligamento de
diretores do grupo
Bradesco em uma
época de reestruturação da empresa, observa que há
um temor reinante entre os executivos de que, a partir
da família, a notícia "vaze".
"Para um executivo, pôr a boca no
trombone não é
estratégico. Mas
isso não o impede
de conversar sobre o assunto em
casa. O melhor é
colocar a verdade
de forma não
comprometedora, sem se expor
demais", ensina.
Jogo limpo
Elucidar os filhos sobre a situação, independentemente da idade
que tenham, indica prudência.
"Perceber alguma coisa errada dá
margem a fantasias de que algo
muito ruim esteja acontecendo.
Isso é pior do que conhecer a realidade", pontua Tiba.
A especialista reforça que é muito importante validar a compreensão das crianças. "Quando
notam a crise, mas ela é negada,
começam a questionar a percepção que têm da realidade e a sinceridade do relacionamento entre
eles e os pais", comenta.
O casal Amauri Martins, 40, e
Carminie Pacheco, 39, enfrentou
perdas sucessivas de emprego.
"Fui demitida de um cargo com
boa remuneração e passei quatro
meses sem trabalho. Nosso padrão de vida caiu. Quando finalmente consegui uma nova posição, meu marido foi mandado
embora", relata Pacheco.
Felipe, o filho de cinco anos,
acompanhou todo o processo e
teve participação ativa nas discussões sobre a situação da família.
"A maior preocupação dele era se
teríamos dinheiro para pagar a escola. Tinha medo de não poder ir
mais lá, de ficar longe dos amigos", conta ela.
Além de acalmar o
garoto dizendo que a
mensalidade da escola estava garantida, os pais aproveitaram a deixa para reforçar a necessidade
de economia. "Mostramos que não dava
para gastar tanta luz
nem fazer passeios
como antes porque
era preciso usar esse
dinheiro para comprar comida. Ele entendeu."
Cofrinho
No escritório da
consultora Mariá
Giuliese, que gerencia os programas de
recolocação da Lens
& Minarelli, desabafos sobre a dificuldade de contar a
verdade aos filhos dividem espaço
com a preocupação de conseguir
emprego. Num dos casos, segundo conta, um executivo manteve
segredo para a filha menor, temendo a reação. Ao contar, ficou
surpreso. "A menina fazia comerciais, e os cachês eram poupados.
Quando soube da situação, ofereceu as economias. Ela sustentou a
família por um tempo."
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