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DIPLOMA DISTANTE
Apesar de comum em editais do país, exigência contraria norma do STJ
Concurso que pede título no ato da inscrição é ilegal
DA REPORTAGEM LOCAL
Com doutorado nos Estados
Unidos financiado pelo governo brasileiro, o pesquisador
Carlos Oliveira já perdeu diversas vezes a chance de concorrer
a concursos públicos do país.
O problema não foram os
prazos, mas as exigências: os
editais pediam que, para a inscrição, o diploma obtido no exterior fosse validado no Brasil.
"Agora, depois de muitos concursos perdidos, ainda estou a
esperar a revalidação de meu
diploma", diz ele, que há 14 meses fez o pedido de validação,
mas ainda não obteve resposta.
A docência é, se não o maior,
um dos principais destinos
ocupacionais de pesquisadores
que retornam de seus doutorados no exterior. Entretanto, os
concursos públicos têm incorrido no erro de exigir a validação do diploma, seja obtido no
exterior ou não, no ato da inscrição -o que é ilegal, pois,
segundo a súmula 266 do Superior Tribunal de Justiça, o diploma só pode ser solicitado no
ato da posse, jamais antes.
"O Brasil vai precisar cada
vez mais de mestres e doutores,
mas o país já pagou demais ao
"bacharelismo", ou seja, à situação em que se tem um título
que não corresponde ao conhecimento", adianta Renato Janine Ribeiro, diretor de avaliação
da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior), entidade ligada ao Ministério da Educação.
Na primeira tentativa de revalidar o título, Oliveira descobriu que faltavam documentos.
Na segunda, a universidade alegou que não tinha o curso. Em
outra, ouviu mais uma recusa.
"Para minha surpresa, fui informado de que, devido à natureza do meu trabalho, aquela
não era uma linha de pesquisa
da instituição e fui desestimulado a submeter meu processo", reclama. "O que propus
não seria nada estranho, pois,
muitas vezes, estamos pesquisando assuntos que são novos
para instituições brasileiras."
Para Rodrigo de Souza, presidente da Apeb-Fr (Associação
dos Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França), a
existência de editais exigindo o
diploma revalidado no ato da
inscrição no concurso é um dos
problemas enfrentados pelos
pesquisadores brasileiros hoje.
"Se um candidato é impedido
de fazer a prova de um concurso por não ter seu diploma revalidado ainda, trata-se de uma
situação injusta", afirma ele.
E acrescenta: "O pesquisador
carece de uma referência geral,
devendo procurar de concurso
em concurso as melhores possibilidades que possam contemplar seu diploma".
Já Thaís Marini Aun, 24,
pensa em começar outra carreira para obter o diploma de
curso superior reconhecido no
Brasil. Ela morou por cinco
anos no Canadá, onde cursou
graduação e pós. Aqui, depois
de passar no vestibular de uma
instituição privada, descobriu
que não consegue sequer pedir
equivalência dos créditos para
seguir estudando. "Mas consegui um bom emprego", diz Aun,
que trabalha no Centro de Estudos Canadenses.
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