São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003 |
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CORRENTE SOLIDÁRIA Informalmente, profissionais criam grupos que passam sugestões de vagas e oferecem capacitação Desempregados criam redes de ajuda mútua
PAULA LAGO FREE-LANCE PARA A FOLHA A dificuldade crescente em arrumar uma vaga -reflexo do índice recorde de 13% de desemprego apurado pelo IBGE nas maiores regiões do país em agosto- começa a criar um novo fenômeno entre profissionais sem ocupação: cansados de brigar sozinhos, eles se unem em redes de solidariedade que têm por fim facilitar o retorno ao mercado de trabalho. Esse "auxílio mútuo" entre desempregados geralmente funciona de maneira rudimentar, mas efetiva. Um exemplo: quem busca uma vaga para gerente comercial, mas encontra uma oportunidade para garçom, pode, em vez de simplesmente descartar a proposta, indicar um conhecido, também desempregado, para a oportunidade. Em contrapartida, o indicado pode vir a premiá-lo no futuro. Assim nasce a rede solidária. "Essas iniciativas têm aumentado, e esse é o caminho. Quando a sociedade forma essas redes de cooperação, sai fortalecida", diz Míriam Duailibi, coordenadora do Instituto Ecoar para a Cidadania, ONG (Organização Não-Governamentais) ambiental que oferece capacitação profissional. Olheiros Lanna Maria Silva de Oliveira, 30, ex-gerente de marketing, está desempregada há quatro meses. Desde então , especializou-se em passar adiante vagas de trabalho. "Como procuro de várias formas e participo de grupos de discussão sobre emprego, recebo e-mails de sites com oportunidades. Se souber de uma vaga que sirva para mim e para um amigo, passo para ele também. Se um dos dois conseguir, ótimo", conta. Ela ainda não teve notícias de que algum conhecido tenha sido contratado assim, mas a corrente cresceu. A publicitária Ivete Pereira da Silva, 28, conheceu Oliveira numa dinâmica de grupo e se juntou ao time. "Trocamos vagas e conversamos. Sempre ajuda." Compartilha dessa visão Humberto Nery, 48, desempregado há três meses. Para se ocupar, passou a separar as vagas que usaria e encaminhá-las por e-mail para conhecidos e amigos de conhecidos. O estudante Rogério Silva Souza, 19, foi um dos destinatários. "Não o conheço pessoalmente, então fiquei desconfiado. Quando as empresas começaram a me procurar, vi que as vagas existiam e até passei para meus amigos." Enquanto o emprego não vem, Nery decidiu cobrar pelo serviço. "Cerca de R$ 9, mas, se alguém me pedir a lista, eu mando." Thiago Rodrigues da Silva tem 17 anos, cursa o ensino médio e conseguiu estágio na Fundação para o Desenvolvimento da Educação com uma indicação. O "empurrãozinho" veio do tio Arcênio Rodrigues da Silva, 39, advogado que orienta grupos sobre o funcionamento de ONGs. "Todos os dias recebo currículos e sempre tento passar para as empresas que conheço. Isso dá resultados concretos", afirma. A questão, para Oliveira, não é parecer "bonzinho". "Assim me sinto útil e ainda ajudo alguém." Próximo Texto: Boca a boa: Site de agrônomo oferece vagas e vira referência Índice |
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