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REFLEXO DA VIOLÊNCIA
Vítimas de assalto têm maior risco de transtorno
Instituição financeira dá apoio a bancário, função de alta exposição
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Era uma tarde de segunda-feira. A agência bancária onde
J. trabalha como gerente não
estava mais aberta ao público, e
ele se preparava para fazer o
fechamento do dia.
Um homem vestido de carteiro bateu no vidro para chamar a atenção do vigia. Ao invés
de cartas, ele tinha uma arma.
Após render o funcionário, o
assaltante entrou na agência
com outros comparsas.
"Não consegui demonstrar
reação nenhuma, simplesmente congelei", conta J.
Após o ocorrido, ele voltou ao
trabalho, mas, dias depois,
"quando a ficha caiu", sentiu
que não conseguiria continuar.
Afastado de suas funções, J. diz
que ainda está abalado: passa
por tratamento psicológico e
toma remédio para dormir.
De acordo com a literatura
médica internacional, o assalto
é o evento violento com o maior
risco de desencadear o TEPT
(transtorno de estresse pós-traumático), afirma a professora de psicopatologia do trabalho Sílvia Jardim, da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro).
Coordenadora do Programa
de Atenção à Saúde Mental dos
Trabalhadores do Instituto de
Psiquiatria da instituição, Jardim diz haver entre seus pacientes um aumento de casos
do transtorno relacionados a
esse tipo de crime.
Segundo ela, bancários,
entregadores de mercadorias e
motoristas e cobradores de ônibus são os mais expostos.
"Vemos esses trabalhadores
absolutamente desprotegidos
nessas situações", comenta.
Programas
No primeiro trimestre deste
ano, segundo a Secretaria de
Estado da Segurança Pública,
ocorreram 66 assaltos a banco
no Estado de São Paulo.
Algumas instituições financeiras têm programas para
atender a funcionários que passaram por situações de violência. O Banco do Brasil, a Caixa
Econômica Federal e o Banco
Real, por exemplo, oferecem
assistência psicológica e jurídica aos colaboradores que sofreram assalto ou seqüestro.
Na Nossa Caixa, são feitos
encontros terapêuticos em
uma pousada no interior paulista. "É um espaço para que os
funcionários tenham contato
com as suas emoções", destaca
Maria Alice Moretti, coordenadora de suporte à gestão da
saúde do banco.
Para Marcelo Batista Nery,
pesquisador do NEV-USP
(Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) e do Instituto São Paulo
Contra a Violência, quando há
um ato violento dentro de uma
empresa, é preciso analisar os
motivos da ocorrência e, depois, tomar atitudes diante das
conclusões.
Ao contrário do que, segundo
Nery, costuma acontecer em
algumas companhias, que preferem abafar o fato, o pesquisador aconselha que todos os funcionários sejam informados do
ocorrido. "Não se deve acobertar a situação."
(IG)
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