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Entrevista Jeffrey Pfeffer
"As piores técnicas de gestão dos EUA são copiadas fora"
"Os líderes precisam mudar como pensam: muitos vêem as pessoas como custo, e não como uma fonte de vantagem estratégica"
As piores técnicas de gestão aplicadas nos Estados
Unidos são copiadas por empresas ao redor do mundo, constata Jeffrey Pfeffer, professor de comportamento organizacional da Stanford Graduate School of
Business. Para ele, que concedeu entrevista à Folha,
os líderes vêem o seu pessoal como custo, e não como vantagem estratégica. Pfeffer veio ao Brasil na
última semana para ministrar curso no Special Management Programs, evento organizado pela HSM.
(IGOR GIANNASI)
FOLHA - As empresas estão preocupadas em estimular as pessoas que
trabalham nelas?
JEFFREY PFEFFER - A maioria das
empresas não está preocupada
em conseguir o engajamento
dos empregados. Hoje, muitas
estão preocupadas apenas em
cortar custos com pessoal.
FOLHA - Qual é o papel do líder
nessa situação? O que ele pode fazer
para mudar isso?
PFEFFER - Os líderes realmente
precisam mudar como pensam:
muitos vêem o seu pessoal
como custo, e não como fonte
de vantagem estratégica. Outros o vêem como passível de
ser trocado -quando as pessoas saem, eles apenas contratam novas para substituí-las.
Se os líderes forem mais eficazes, terão de ver, acima de
tudo, que o "turnover" é muito
dispendioso. Há pessoas que
são de fato a fonte de sustentação da vantagem competitiva e,
na verdade, trazem mais vantagem à empresa do que a tecnologia ou a estratégia.
FOLHA - Como mudar esse ponto
de vista? O que o senhor sugere?
PFEFFER - Para falar a verdade,
eu não estou certo sobre isso.
Alguns diriam "mostrem a eles
as evidências" [da importância
dos funcionários]. Mas existem
diversos estudos, como os da
Gallup Organization e do Great
Place to Work Institute, que
não os têm convencido. Então
não sei o que irá convencê-los.
Mas a boa notícia é que, para as
pessoas que entendem essa
questão, os retornos econômicos são muito elevados.
FOLHA - Qual é o maior desafio na
gestão de pessoas?
PFEFFER - O principal desafio é
delegar o poder de decisão. Há
uma tendência entre as pessoas
da companhia de presumir que
tudo o que elas fazem é melhor
do que aquilo que elas mesmas
não fazem. É muito difícil para
um gerente sênior delegar suficientemente as responsabilidades do poder de decisão para as
linhas de frente, para que elas
possam usar seus talentos.
FOLHA - Quais são as habilidades
necessárias para o líder?
PFEFFER - A qualidade mais
importante é não ter muito ego.
Muitos líderes acreditam que
sabem tudo, e isso causa muitos
problemas. A modéstia é provavelmente a qualidade mais
importante que se deve procurar em um líder. É uma pessoa
que não sofre de excesso de
confiança e que não pensa que
sabe mais do que sabe.
FOLHA - Quais são as semelhanças
e as diferenças do gerenciamento de
pessoas em empresas americanas e
brasileiras?
PFEFFER - Eu teria de saber mais
sobre empresas brasileiras para responder com autoridade.
Mas eu diria que as empresas
da América do Sul são mais hierarquizadas do que as dos Estados Unidos, o que é um problema. Elas estão menos preocupadas com assuntos relacionados às pessoas do que as firmas
americanas. Mas muitas empresas ao redor do mundo estão
copiando as piores técnicas de
gestão dos Estados Unidos, como ranking de desempenho,
pagamento por desempenho
individual e "downsizing" [corte de pessoal].
FOLHA - Essas empresas devem
olhar suas próprias necessidades para formatar programas de gestão,
ao invés de copiar os que vêm dos
Estados Unidos?
PFEFFER - Os gerentes seniores
devem ter a coragem de fazer a
coisa certa, e não apenas copiar
o que todo mundo faz. Devem
fazer o que acham ser o certo,
porque, se eles fazem o mesmo
que todo mundo, conseguem
basicamente o mesmo resultado. Para alcançar ganhos excepcionais e fazer algo diferente e bom, é preciso ter coragem
e estratégia interna.
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