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Suzana Herculano-Houzel

Bons de olfato

E se a suposta deficiência olfativa dos humanos for simplesmente uma questão de ponto de vista?

Diz a lenda que o olfato humano, como o dos primatas em geral, não serve para grandes coisas, dado o tamanho relativo pequeno do nosso bulbo olfatório e o número diminuído de receptores olfativos em nossos narizes, em relação a não primatas. Mas, em termos absolutos, nosso bulbo olfatório não é nada pequeno. E se nossa "deficiência" olfativa for uma questão de ponto de vista --ou, melhor dizendo, de olfato?

A questão é que somos bípedes, o que mantém nosso nariz empinado. Sair pelas ruas com minha cachorra é um lembrete de como o mundo olfativo deve ser diferente a centímetros do chão. Do alto de um metro e meio, meu nariz ignora o que se passa lá embaixo --mas o dela, que é quadrúpede, vive colado ao chão, enquanto ela corre alucinadamente de uma mina olfativa à seguinte pela calçada.

Uma comparação honesta de nossas habilidades olfativas seria, portanto, convidar humanos a voltar às origens e, de quatro, colar o nariz ao chão, como fazem os cachorros. Será que nessa postura o olfato humano se mostraria tão capaz quanto o dos superfarejadores?

Isso foi o que Noam Sobel, neurocientista agora no Instituto Weizmann, em Israel, testou na Universidade da Califórnia, alguns anos atrás. Sobel conseguiu a cooperação de 32 universitários boas-praças que toparam, em nome da ciência, pagar mico e se colocar de quatro em um gramado, com vendas e tampões de ouvido, para tentar seguir um rastro de chocolate (óbvio).

De nariz colado à grama, 21 dos voluntários conseguiram seguir o rastro usando apenas o olfato, ziguezagueando ao longo da trilha como fazem cães farejadores.

Esses humanos usam, via olfato, o mesmo mecanismo de localização espacial que funciona para os outros sentidos: a comparação entre os dois lados do corpo. Embora próximas, cada narina inala amostras de regiões diferentes, e a comparação de uma com a outra é fundamental para seguir um rastro. Com uma narina só, nada feito: o cheiro existe, mas não pode ser localizado. Mas com as duas abertas, o zigue-zague ao longo de um rastro faz o farejador voltar ao caminho certo toda vez que a pista começar a ficar fraca demais. Funciona em cachorros --e também em humanos.

Viu? Seu olfato é melhor do que você suspeitava. Quer testar? Ande de quatro em casa e fareje o mundo de uma nova perspectiva. Prometo que eu não conto para ninguém!


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