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ROSELY SAYÃO
Ranking de pais
Muitas escolas comprometidas, que
realizam um projeto de trabalho
claro, em busca de uma prática
mais coerente com suas propostas teóricas e de aprimoramento, estão pressionadas por
causa do resultado do Enem.
Desde que há um ranking de
escolas usando resultados de
exames desse tipo, elas são avaliadas pela comunidade de
acordo com a posição alcançada. As escolas consideradas de
maior qualidade são as que estão pelo menos entre as 15 primeiras. E tem mais: agora se faz
também a relação entre a mensalidade e o ranking, pode?
O resultado do exame não
pode ser descartado por completo, é claro, mas também não
deveria ser levado tão a sério
quanto tem sido. Afinal, o trabalho escolar realizado por oito
anos (agora nove) no ensino
fundamental e, depois, no ensino médio não pode ser computado em uma prova. Por quê?
Ora, porque alguns alunos
não produzem tudo o que sabem por ficarem tensos em situação de prova, outros por
ainda não terem se acostumado
a passar por avaliação de forma
ritualística, outros porque não
estão no melhor dia quando fazem a prova, outros ainda porque não dão valor à avaliação.
Claro que também há alunos
que não apresentam resultados
melhores porque a escola não
realiza a contento seu papel.
Mesmo assim, isso não pode
ser deduzido apenas pela prova. A escola não é só instrutora
de conteúdo, certo?
Uma colega educadora profissional, muito espirituosa,
manifestou de forma bem-humorada sua crítica ao estardalhaço que se faz com o tal ranking de escolas. Ela disse que os
pais só entenderiam o que significa isso se fizéssemos também um ranking de pais.
Adorei a idéia. Aliás, as escolas que faziam e ainda fazem, de
forma velada, a malfadada prova para a entrada de novos alunos não deixam de agir assim,
não é mesmo? Mas, poderíamos aprimorar o processo.
Para alunos da educação infantil, a avaliação seria tanto
das crianças quanto dos pais. A
estes, poderíamos fazer um
questionário para avaliar, por
exemplo, se contam histórias a
seus filhos, se fazem ofertas
culturais a eles, se praticam
educação moral e ensinam virtudes, se têm disponibilidade
para acompanhar de perto o
trabalho da escola e se são modelos coerentes de pais. E, para
as crianças, avaliaríamos o
quanto é efetivo o trabalho realizado pelos pais, ou seja, veríamos se a criança demonstra curiosidade pelo mundo à sua volta, se sabe se comportar em situações diversas, se seu conhecimento prévio está de acordo
com o esperado etc.
Para alunos do primeiro ciclo
do ensino fundamental, o esquema ainda seria semelhante
ao citado acima. A avaliação dos
pais verificaria itens como disponibilidade para realizar parceria com a escola e comparecer às reuniões, capacidade de
organizar o tempo do filho para
estudo e para exigir dele compromisso e responsabilidade
com o trabalho escolar, condição de delegar de forma respeitosa a educação escolar à instituição de ensino etc. Com os
alunos, se poderia verificar se
sabem acatar limites e conviver
respeitosamente com os colegas, se assimilam bem as lições
dadas, se sabem respeitar os
adultos etc. A combinação dos
dois resultados permitiria elaborar o ranking de famílias, e as
escolas disputariam os primeiros colocados e dispensariam
os outros.
Com alunos do ciclo final do
ensino fundamental e os de ensino médio, os pais poderiam
ser dispensados do exame porque, afinal, os filhos já deveriam ter incorporado o trabalho educativo, não é?
Essa brincadeira serve para
mostrar a falta de bom senso
que é avaliar o trabalho das escolas apenas pelo resultado dos
exames de seus alunos. Os pais
não precisam levar tão a sério
os tais ranking escolares.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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