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ROSELY SAYÃO
Conversas com mães
Conversei com um grupo de mães muito interessadas em educar
bem seus filhos menores de cinco anos. O tema da
conversa girou em torno de
uma questão crucial para elas: o
que dá para ensinar e o que não
dá para esperar que aprendam
nesse período da vida.
Primeiro ponto interessante,
que interfere decisivamente na
relação das mães com seus filhos: elas trabalham e colocaram seus filhos na escola de
educação infantil, mas todas
sentem culpa por passar pouco
tempo com eles. Esse sentimento, aliás, parece nascer nas
mulheres quando elas dão à luz
pela primeira vez, não é?
Que invenção é essa do nosso
tempo? Afinal, deve sentir culpa quem assume que provocou,
intencionalmente ou não, algum mal a alguém, e isso nada
tem a ver com o fato de as mães
se ausentarem para o trabalho.
Desconfio que essa emoção tão
dolorosa seja uma das grandes
responsáveis por muitas confusões na educação dos filhos. Por
isso, convido à reflexão todas as
mães que se sentem culpadas.
Lidar com os filhos já dá muito
trabalho e conviver com essa
emoção inútil só atrapalha.
Outro ponto da conversa
com essas mulheres é que, com
estilos de vida muito parecidos,
elas tinham mais discordâncias
do que consensos quando comentavam o que queriam ensinar aos filhos. Isso significa que
não compartilhamos de um
conceito de infância -outro fator importante da confusão reinante na relação dos adultos
com as crianças pequenas. Tomarei aqui alguns exemplos citados por essas mães para
apontar os equívocos que temos cometido em nome de
uma boa educação.
Ensinar ao filho que seja generoso e saiba compartilhar
brinquedos com colegas ou irmãos é um anseio de muitas famílias que não querem criar
um filho egoísta. Mas emprestar exige que a criança tenha
posse sobre os objetos, e isso leva tempo para ser aprendido.
Na verdade, para os menores
tudo o que está em volta deles
ou com eles é só deles, tanto objetos quanto pessoas.
Vamos lembrar que a criança
é autocentrada e regida pela
busca do prazer e que só aos
poucos a realidade passará a fazer parte de sua vida. Por isso,
para ensinar uma criança a ceder algo, primeiro é preciso esperar que ela saiba o que, de fato, é seu.
Para tanto, ela não pode ser obrigada a emprestar
seus brinquedos e precisa ser
levada a deixar o que não é seu
quando necessário.
Muitos adultos esperam,
também, que a criança aprenda
logo que deve cuidar tanto de
seus pertences quanto dos da
casa. Algumas mães contaram
que os filhos, por mais que elas
ensinem, quebram os brinquedos, mexem em enfeites delicados e destroem vasos com plantas. Ocorre que, para a criança
pequena, viver significa investigar e explorar e é desse modo
que elas conhecem o mundo.
Não adianta esperar que aprendam a respeitar as coisas quando estão na função de conhecê-las. Por isso, o melhor é deixar
que disponham de seus brinquedos -afinal, são delas ou
não?- como queiram e tirar do
alcance aquilo com que ainda
não sabem lidar. Só depois dessa fase fica possível começar a
ensinar a respeitar e a cuidar.
Uma coisa as crianças podem
aprender desde pequenas: a
obedecer aos pais. Para isso, é
preciso que eles mandem com
atos e não só com palavras, ou
seja, impeçam que a criança faça o que não deve e levem a
criança a fazer o que precisa.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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