São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008 |
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AUDIÇÃO Barulho ambiente
Pesquisas brasileiras testam tratamentos para o zumbido, distúrbio que atinge cerca de 15% da população mundial e pode ser causado por mais de 200 fatores diferentes
JULLIANE SILVEIRA DA REPORTAGEM LOCAL
O canto do uirapuru é
considerado o mais
bonito de sua classe e
um dos mais raros: o
pássaro só canta por cerca de 15
dias no ano. Mas, para a instrumentadora cirúrgica aposentada Sandra Carvalho Martins,
51, é diferente. Ela escuta o som
da ave quase todos os dias, há
20 anos -intercalado com o de
grilo, o de apito e o de faca sendo passada no esmeril.
Prevenção Apesar de não ser possível garantir que o zumbido não vá aparecer, dá para prevenir algumas das causas. Evite se expor a sons muito altos, especialmente do MP3. "Usado por muito tempo e com volume muito alto, está virando uma forma de poluição sonora forte", alerta Tanit Gunz Sanchez. Também não exagere no consumo de açúcar, gorduras e cafeína e controle o estresse. Foi o que desencadeou a "panela de pressão" da estudante Karine Rocha dos Santos, 22. "Também percebi que o zumbido piora quando estou sob pressão e estressada", conta. Na época de provas, ela precisa relaxar um pouco durante os estudos. "Pelo menos a faculdade que curso, educação artística, ajuda a canalizar minha agitação", diz. Tratamentos Cuidar da causa do zumbido é primordial, mas pode ser necessário um tratamento específico para o distúrbio. O paciente deve decidir com o médico qual a melhor forma de tratá-lo, ponderando resultados previstos e tempo de tratamento. 1. MEDICAMENTOS Como existem diversos medicamentos, o tratamento deve ser individualizado -dois pacientes com problemas parecidos podem reagir de forma completamente diferente ao mesmo remédio. De acordo com Tanit Gunz Sanchez, do HC, a chance de melhora é de 50%. "As pessoas odeiam ouvir isso, mas viemos de uma época em que não se acreditava que houvesse cura", afirma. E enfatiza que remédios ajudam, mas é essencial tratar a causa do zumbido. 2. ALIMENTAÇÃO Quem tem zumbido pode ter de reduzir o consumo de cafeína, açúcar e gorduras -compostos reconhecidamente ligados a esse problema. As células da cóclea (região do labirinto responsável pela audição) dependem do oxigênio que chega por meio do sangue. O excesso dessas substâncias no sangue pode dificultar a irrigação da cóclea e desencadear o mau funcionamento e até a morte das células auditivas. Uma análise detalhada dos hábitos do paciente indica se a mudança alimentar se justifica. 3. TRT (terapia de retreinamento de zumbido, na sigla em inglês) A técnica consiste em duas etapas. Na primeira, o paciente recebe orientação e tira suas dúvidas sobre o distúrbio. Na segunda, passa por um "enriquecimento sonoro". Como o ruído interno é muito mais percebido em locais silenciosos, a saída é manter no ambiente sons constantes. Em casos mais sérios, é possível usar um gerador de som -similar ao aparelho auditivo, que emite um chiado bem baixo. "O primeiro passo é a menor reação ao zumbido. O segundo é a pessoa ficar cada vez mais tempo sem percebê-lo", diz a fonoaudióloga Keila Knobel. O tratamento é longo: pode levar de 18 a 24 meses para trazer o efeito desejado. 4. ESTIMULAÇÃO SONORA Outra forma de estimulação é o mascaramento: troca-se o barulho do zumbido por um som mais alto. O "novo" ruído pode ser um rádio ligado ou um mascarador, uma espécie de aparelho auditivo que emite um chiado constante. No entanto, se o paciente deixa de aplicar a técnica, o som volta. Deficientes auditivos podem usar aparelhos ou implante coclear, que estimula o nervo auditivo. Geralmente, quando voltam a ouvir outros sons, não percebem mais o zumbido e se sentem melhor. 5. FISIOTERAPIA Uma constatação recente pode contribuir para solucionar problemas em pacientes que também sofrem de dor miofascial (associada a "pontos-gatilho", que, quando apalpados, doem ou irradiam dor para outras áreas do corpo). Quando presentes na região da cabeça, pescoço ou ombros, esses pontos podem ter relação com o zumbido. Para sua tese de mestrado, publicada na "Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia", a fisioterapeuta Carina Bezerra Rocha avaliou a presença de "pontos-gatilho" em 188 pacientes, metade deles com zumbido, e verificou que pessoas com zumbido têm quatro vezes mais chances de também ter "pontos-gatilho". "Quanto mais próximo os pontos estão da cabeça, mais chances de haver relação com o zumbido." Há um ano, ela trata 15 pacientes no Ambulatório de Zumbido do Hospital das Clínicas de São Paulo. Desses, 14 já relataram melhora -três disseram que o som desapareceu totalmente. Ela aconselha que pacientes com dor na cabeça, no pescoço ou nos ombros a relatem ao otorrino, para que sejam avaliados por um fisiatra e, se for o caso, tratados por um fisioterapeuta. 6. ACUPUNTURA Para o otorrinolaringologista Ektor Tsuneo Onishi, que estuda o efeito da acupuntura no tratamento do zumbido e coordena o Ambulatório de Zumbido do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a técnica ajuda a diminuir o incômodo que o ruído gera. Ele publicou na "Revista Brasileira de Otorrinolaringologia" um estudo com pontos de acupuntura na cabeça, em 76 pacientes. "Provamos que um ponto específico do ouvido pode melhorar o zumbido, diminuindo a intensidade ou o incômodo." De acordo com ele, ainda não estão claros os mecanismos que levam à melhora, mas notou-se que, depois da acupuntura, algumas vias envolvidas na audição começam a funcionar de forma diferente. 7. ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA Ainda em pesquisa em diversos países, a técnica não está disponível para tratar zumbido -é usada contra a depressão. Por meio de pulsos magnéticos sobre o crânio, gera-se uma corrente elétrica que pode alterar a atividade das células nervosas e desacelerar a parte auditiva, reduzindo o zumbido. Um trabalho realizado pelo Grupo de Pesquisa em Zumbido da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) com 20 pacientes mostrou que aqueles que fizeram sessões de estimulação por cinco dias consecutivos melhoraram mais do que os que não passaram pelo tratamento. 8. HIPNOSE Técnica crescente em outras partes do mundo, consiste em sugerir ao paciente que se encontra em um estado específico de relaxamento que não perceba mais o zumbido. Como as pesquisas ainda são realizadas com poucas pessoas, faltam comprovações científicas de que seja uma terapia eficiente.
Colaborou AMARÍLIS LAGE , da Reportagem Local Texto Anterior: Saúde: Jejum de insulina Próximo Texto: Por quê? Índice |
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