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ROSELY SAYÃO
Descoberta da sexualidade
Sexualidade é e sempre
será um tema espinhoso. Combinada com a
educação dos filhos,
então, nem se fala! Pois é exatamente nessa situação delicada
que estão muitas mães de garotas que já entraram na puberdade e vivem a adolescência ao
modo contemporâneo.
Várias delas, muito comprometidas com a educação das filhas, inclusive na questão da
formação dos valores, sempre
encontram maneiras de se inteirarem dos costumes dos jovens para melhor orientá-las. E
um fato as tem deixado bastante preocupadas.
É que muitas garotas têm
curtido -como elas gostam de
dizer- ficar com garotas, sem
que isso signifique a descoberta
de sua orientação sexual. Além
disso, muitos jovens têm feito
apologia da bissexualidade. Interessante é saber que eles associam isso à liberdade.
As mães acham que é um modismo, mas talvez possamos
pensar melhor a respeito. Em
primeiro lugar, é preciso reconhecer que a descoberta da sexualidade adulta é um acontecimento importante na vida
dos adolescentes. E essa descoberta ocorre, primeiramente,
em relação às sensações.
A excitação física, o prazer, a
satisfação dos impulsos e até o
orgasmo são questões experimentadas com entusiasmo pelos jovens, e não sem razão. Ao
lado disso, é importante lembrar que nosso contexto privilegia as sensações -portanto,
essa questão, que já fazia parte
da vida dos adolescentes, encontra-se potencializada. Eles
são praticamente impelidos para essa busca. Ouvi uma frase
interessantíssima de uma garota a esse respeito. Ela disse que
se divertir com experiências sexuais tinha o mesmo sentido de
ir a um parque de diversões e
que viver tinha de ser divertido.
Outro ponto importante a
considerar é a questão do corpo. Em fase de transformações
nem sempre com resultados
satisfatórios para eles, a aparência é o primeiro elo no que
se refere à atração. Nesse momento da vida -e, pelo jeito,
não mais apenas nesse período-, é a aparência que aproxima ou repele. E, como eles estão muito submetidos aos modelos de corpo impostos, têm
grandes dificuldades em serem
donos de seu próprio corpo.
Isso gera uma conseqüência:
se o corpo não lhes pertence,
não conseguem cuidar dele segundo seus pensamentos e
princípios. É quase uma dissociação entre o que pensam querer para si na vida e o comportamento que praticam. Uma
garota de 13 anos disse que é totalmente contrária ao aborto,
mas que, caso precisasse, certamente iria utilizar esse recurso.
Diante de tal complexo panorama, os pais têm muitas possibilidades de orientar os filhos
na questão da sexualidade, mas
sem esquecer que eles são bastante permeáveis às ideologias
do mundo em que vivem e que a
educação dada, por melhor que
seja, não é vacina contra nada.
Talvez o que mais funcione
seja a formação coerente, que
começa bem cedo, dos limites
entre vida íntima e convívio social, da importância do respeito
às diferenças e do ensinamento
de que qualquer comportamento gera conseqüências.
Os pais precisam saber que a
educação sexual de seus filhos
não é uma questão separada da
educação como um todo e que
ela começa quando o filho nasce. Dedicar-se a ela quando os
filhos são adolescentes pode
ser tarde demais.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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