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ROSELY SAYÃO
Conflitos da adolescência
Quando uma família
tem um filho, a chegada desse novo integrante muda bastante a estruturação e a dinâmica
do grupo. O crescimento da
criança, com a conseqüente
passagem para diferentes etapas da vida, impõe novas mudanças aos pais e ao grupo familiar, e tal processo entra em
sua fase de desfecho quando o
filho chega à adolescência.
Muita gente já ouviu dizer que,
quando os filhos adolescem, os
pais adolescem junto. Pois isso
só faz sentido se a fase da adolescência for tomada como
tempo de amadurecer.
É nesse período que, ao deixar de ser criança, o filho começa sua trajetória rumo à autonomia. O amadurecimento é
múltiplo: sexual, social, afetivo
e cultural, entre outros, e possibilitará que, num futuro bem
próximo, o filho conquiste sua
liberdade em relação à sua família de origem.
Do mesmo modo, os pais
também participam de tal processo, já que o amadurecimento do filho resultará em mudanças e reorganizações pessoais e do grupo: um de seus integrantes partirá e, fatalmente,
os pais deverão voltar a olhar
para sua vida pessoal e/ou de
casal -e, novamente, reorganizá-la. Esse é um momento difícil para pais e filhos porque exige a busca de um novo equilíbrio para cada um deles e para o
grupo que formam. Pais e filhos
enfrentam seus próprios conflitos e, ao mesmo tempo, os
que surgem entre si.
Acontece que a família é um
grupo social permeável e, portanto, sofre as influências do
contexto cultural em que vive.
E, aí, o processo de transformação da família, que já é delicado,
hoje ganha contornos de grande complexidade.
Por um lado, os adultos estão
submetidos a alguns ideais
-entre eles o da busca desesperada da felicidade e da eterna
juventude- que interferem decisivamente na posição que assumem perante os filhos. Estabelecer relações mais de amizade e cumplicidade do que de autoridade, evitar conflitos, escapar do movimento contínuo de
ora apertar, ora soltar os limites que os filhos ainda têm são
atitudes que muitos pais assumem hoje em dia. Isso sem falar do abandono precoce que
muitos pais praticam por conta
da impotência que sentem perante um filho questionador e
em busca de confrontos.
De outro lado, os jovens se
tornaram o principal alvo do
mercado publicitário e isso faz
com que adquiram novas necessidades, interesses e anseios: a busca de aventura, o
"fazer para acontecer", a recusa
do cotidiano maçante etc. Vale
lembrar também o esforço que
muitos pais realizam para que
os filhos atinjam um superávit
de satisfação, o que provoca jovens enfastiados: pouco ou nada desejam porque tudo ou
quase tudo têm.
A presença educativa dos
pais na vida dos filhos na adolescência é tão necessária
quanto na infância. É o desencontro dessas duas gerações
que tem, muitas vezes, possibilitado ocorrências desastrosas.
Acidentes provocados por direção perigosa combinada com
bebida alcoólica, brigas violentas e fugas inconseqüentes são
exemplos disso. Sinal de que
eles precisam da retaguarda familiar ainda.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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