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ROSELY SAYÃO
Aprender brincando
Um pai dedicado escreveu contando
que, na reunião de final de semestre letivo na escola que o filho de cinco
anos freqüenta, descobriu que
ele passa o período todo brincando. Pelo jeito, o pai não sabia do projeto da escola ou pensou que este deveria mudar
com o crescimento da criança.
Já tratei desse assunto várias
vezes aqui, mas sempre é preciso retornar para considerar outras perspectivas. Hoje vamos
falar dessa pressão que muitos
pais, pensando no futuro, exercem sobre o filho e sobre as escolas de educação infantil.
A criança aprende brincando. Aliás, ela aprende a brincar
brincando também. Drummond escreveu que "amar se
aprende amando" e o mesmo se
aplica às crianças em relação ao
ato de brincar.
E atenção: isso ela aprende
sozinha ou com outras crianças, não precisa que um adulto
a ensine a brincar. Muitos pais
que contratam babás para cuidar de seus filhos pequenos
orientam a auxiliar a dedicar
boa parte de seu tempo brincando com a criança. Essa atitude não é adequada porque a
criança ficará dependente de
um adulto para exercer uma
das únicas atividades para a
qual tem autonomia: brincar.
As escolas que compreendem bem o papel do ensino infantil na vida das crianças com
menos de seis anos organizam
seus espaços e suas atividades
de modo a oferecer aos alunos
tempo para conviver com os colegas e, portanto, se socializar.
Também disponibilizam material não estruturado e sem finalidade visível, para a criança
criar e colocar em ato sua imaginação, leituras de histórias de
vários tipos, para a criança ter
contato com vários tipos de linguagens e gêneros literários, e
espaço para pesquisa.
Tais pesquisas não devem ter
finalidade científica, e sim criar
e manter a atitude curiosa do
aluno que tem perguntas e
também tem condições, com o
auxílio do professor, de encontrar caminhos para obter algumas respostas ou, melhor ainda, elaborar novas perguntas.
Esse é um processo de iniciação
científica, sim, mas sem o rigor
que será exigido mais tarde, no
ensino fundamental.
Além disso, a criança precisa
ter contato com elementos da
natureza, como a água, o fogo
ou os pequenos seres que habitam nosso meio. Precisa de
tempo livre e de tempo organizado. Precisa aprender as primeiras regras da convivência
nas atividades em grupo e as
primeiras regras da vida por
meio dos jogos. Precisa ter contato com a cultura e as artes em
suas diferentes expressões.
Todas as atividades são brincadeiras, mas, ao mesmo tempo, uma séria preparação para o
futuro. Não se pode pensar no
ensino infantil nos mesmos
moldes que pensamos o ensino
fundamental. Aliás, é bom saber que a criança que vive sua
primeira infância bem de acordo com sua idade tem mais facilidade de se adaptar às novas
exigências que encontrará no
ensino fundamental.
O problema atual é que, como muitos pais pensam como
nosso leitor, muitas escolas
têm instituído um ensino infantil mais voltado aos anseios
dos pais do que aos das crianças. E quem perde com isso, caros pais, são seus filhos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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