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'Deixei que anônimos ajudassem', diz bombeiro

'Vítimas pareciam empilhadas com empilhadeira', relata sargento

Alarme prolongado no quartel alertou para a gravidade da situação; dez homens foram combater fogo na boate

DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA MARIA

O sargento Sergio Rogerio Gularte, 46, do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, cumpria o seu turno de trabalho na madrugada de sábado.

No quartel, assistia a lutas na TV quando soou o alarme.

"Foi um toque prolongado. Aí me liguei que era grave."

Segundo pessoas que estavam na boate Kiss, o fogo começara pouco depois das 2h30.

Os dez bombeiros que estavam de serviço -cinco deles alunos, ainda em treinamento- foram para o local, que fica no centro da cidade. "Ao chegar, deu para visualizar a enorme quantidade de gente caída. Os primeiros que socorremos, na entrada [da casa], eram os que ainda se mexiam."

Depois que o Samu foi acionado, chegou um médico para separar os vivos dos mortos, relata Gularte.

Já na chegada, o sargento Robson Müller, 46, diz que se deparou com a "primeira decisão difícil" da noite.

RESGATE

Quatro rapazes que tinham acabado de escapar do incêndio ajudavam a retirar as vítimas -e, com isso, se expunham ao risco de aspirar a fumaça. O "procedimento correto" seria retirá-los, diz Müller. "Mas eu precisava daquela força. Tive de pensar rápido", diz.

"Eu deixei que nos ajudassem. 'Fica', eu disse. De dez homens, passei a 14."

"A fumaça era densa, o cheiro, insuportável, de material de isolamento queimando", conta Gularte.

Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada a marretadas para retirar pessoas.

Os bombeiros colocaram máscaras ligadas a cilindros de oxigênio presos às costas, mas, como o número de vítimas para carregar até a rua era grande, os homens ficaram ofegantes, e o ar dos cilindros acabou mais rápido que de costume.

"Em 20 minutos, terminou o oxigênio. Eu tinha outra decisão para tomar: ou mandava alguém buscar mais equipamentos no quartel ou colocaria em risco a guarnição, que aspiraria fumaça para retirar as vítimas."

"Autorizei que o salvamento continuasse", disse Müller. Por isso, ainda nesta semana os bombeiros que participaram da ação terão que submeter a radiografias de pulmão.

Segundo Gularte, não havia pessoas caídas no fundo da boate. Todas estavam perto da entrada. Após desobstruir a passagem, os bombeiros rastejaram boate adentro.

'EMPILHADOS'

"Do lado direito, em frente e dentro do banheiro, estava o maior número de pessoas. Pareciam empilhadas com empilhadeira. Devem ter pensado que no banheiro estariam salvas", diz o sargento.

"Depois que vimos que para aquele pessoal empilhado não tinha mais o que fazer, procuramos eliminar os focos de incêndio. A Força Aérea conseguiu um ventilador grande para ajudar a ventilar. Colocamos mais luz e apareceram mais cadáveres."

O trabalho de carregar corpos durou até depois das 8h. Mas o fogo foi apagado bem mais cedo. Às 8h, a equipe do turno seguinte chegou -mas Gularte e Müller só voltaram para casa após as 10h.

Gularte trabalha há 23 anos como bombeiro. Muller, há 26.

Quanto aos rapazes que os ajudaram os bombeiros, diz que não os viu mais. "Gostaria de encontrá-los, porque eles merecem um agradecimento público".


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