São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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DO OUTRO LADO DO MURO

Relação entre vizinhos é boa e dá sensação de segurança, dizem moradores

Confiança em vizinhos é uma das maiores qualidades da região, segundo moradores ouvidos por pesquisa do Datafolha

Patricia Stavis/Folha Imagem
As vizinhas Wanda Konem Primo (à esq.) , Malvina Quadros (ao centro) e Gilda Giovanardi, que estão sempre atentas ao que acontece na Vila Guilherme

DA REPORTAGEM LOCAL

"Tem a turma das 11h e a das 16h", diz o português Francisco Fernandes, 60, sentado com seu bigode farto e sobrancelhas negras no banco de concreto da praça Oscar da Silva, na Vila Guilherme. É lá que ele encontra, todo dia, outros 15 amigos aposentados, para falar da vizinhança que "não tem preço".
E Chico fala de boca cheia. Quando a mulher sofreu uma parada cardíaca, foi a vizinha que ligou chamando o resgate.
"Por isso eu poderia ter muito dinheiro, mas não sairia daqui para morar cercado de muros, sem conhecer ninguém", diz o morador da vila há 33 anos.
Vizinhança e segurança caminham juntas na zona norte.
São o terceiro e o segundo indicadores mais apontados pelos moradores como principal qualidade da região, com 11% e 12%, respectivamente -o primeiro colocado é comércio e serviços, com 21%.
No entanto, apesar desta percepção positiva, a região não é uma ilha de tranqüilidade. O tráfico tem forte penetração na zona norte e há indícios de que policiais militares atuem em grupos de extermínio, principalmente no Tremembé e no Jaçanã -ambos receberam as piores avaliações sobre segurança, com notas 4,4 e 3,9, respectivamente. A nota média da região para segurança é 4,6 e a da cidade, 5. Santana (5,6), Mandaqui (5,3) e Tucuruvi (5,3) tiveram as maiores notas.

Futebol
"A gente mal sai de casa e já cumprimenta todo mundo", retoma Chico, balançando o chaveirinho da Portuguesa no bolso. Ele garante que o futebol não predomina nas conversas.
Com um grito, Chico cumprimenta o palmeirense Ary Ungaretti, 54, colega de praça. Patologista e artista plástico, Ary tem entrevistado os moradores para escrever um livro de memórias. Mas ele mesmo tem suas histórias. Diz que, quando menino, ganhava papinha de dona Maria Cândida, mulher do português Guilherme -que deu o nome à vila, segundo ele.
É caminhando pela rua Maria Cândida com Wanda Konem Primo, 75, que se entende a noção de vizinhança. Leva cinco minutos para que ela cumprimente quatro senhoras na padaria, outra em frente à igreja e Malvina Quadros, 79, que conversa com Gilda Giovanardi, 83, cem metros à frente.
"Ela me chama no muro todo dia para conversa", diz Malvina. As três amigas se conhecem há mais de 50 anos. "Se eu vou à "cidade", ligo e pergunto se ela precisa de algo", diz Gilda, que, em troca, não costura sem pedir à amiga. Wanda e as amigas sabem de tudo na Vila Guilherme. "Mas que não digam que somos fofoqueiras", brinca. (WILLIAN VIEIRA)



Colaborou JOÃO PEQUENO



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