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DO OUTRO LADO DO MURO
Relação entre vizinhos é boa e dá sensação de segurança, dizem moradores
Confiança em vizinhos é uma das maiores qualidades da região, segundo moradores ouvidos por pesquisa do Datafolha
Patricia Stavis/Folha Imagem
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As vizinhas Wanda Konem Primo (à esq.) , Malvina Quadros (ao centro) e Gilda Giovanardi, que estão sempre atentas ao que acontece na Vila Guilherme
DA REPORTAGEM LOCAL
"Tem a turma das 11h e a das
16h", diz o português Francisco
Fernandes, 60, sentado com
seu bigode farto e sobrancelhas
negras no banco de concreto da
praça Oscar da Silva, na Vila
Guilherme. É lá que ele encontra, todo dia, outros 15 amigos
aposentados, para falar da vizinhança que "não tem preço".
E Chico fala de boca cheia.
Quando a mulher sofreu uma
parada cardíaca, foi a vizinha
que ligou chamando o resgate.
"Por isso eu poderia ter muito
dinheiro, mas não sairia daqui
para morar cercado de muros,
sem conhecer ninguém", diz o
morador da vila há 33 anos.
Vizinhança e segurança caminham juntas na zona norte.
São o terceiro e o segundo indicadores mais apontados pelos
moradores como principal
qualidade da região, com 11% e
12%, respectivamente -o primeiro colocado é comércio e
serviços, com 21%.
No entanto, apesar desta percepção positiva, a região não é
uma ilha de tranqüilidade. O
tráfico tem forte penetração na
zona norte e há indícios de que
policiais militares atuem em
grupos de extermínio, principalmente no Tremembé e no
Jaçanã -ambos receberam as
piores avaliações sobre segurança, com notas 4,4 e 3,9, respectivamente. A nota média da
região para segurança é 4,6 e a
da cidade, 5. Santana (5,6),
Mandaqui (5,3) e Tucuruvi
(5,3) tiveram as maiores notas.
Futebol
"A gente mal sai de casa e já
cumprimenta todo mundo", retoma Chico, balançando o chaveirinho da Portuguesa no bolso. Ele garante que o futebol
não predomina nas conversas.
Com um grito, Chico cumprimenta o palmeirense Ary Ungaretti, 54, colega de praça.
Patologista e artista plástico,
Ary tem entrevistado os moradores para escrever um livro de
memórias. Mas ele mesmo tem
suas histórias. Diz que, quando
menino, ganhava papinha de
dona Maria Cândida, mulher
do português Guilherme -que
deu o nome à vila, segundo ele.
É caminhando pela rua Maria Cândida com Wanda Konem Primo, 75, que se entende
a noção de vizinhança. Leva
cinco minutos para que ela
cumprimente quatro senhoras
na padaria, outra em frente à
igreja e Malvina Quadros, 79,
que conversa com Gilda Giovanardi, 83, cem metros à frente.
"Ela me chama no muro todo
dia para conversa", diz Malvina. As três amigas se conhecem
há mais de 50 anos. "Se eu vou à
"cidade", ligo e pergunto se ela
precisa de algo", diz Gilda, que,
em troca, não costura sem pedir à amiga. Wanda e as amigas
sabem de tudo na Vila Guilherme. "Mas que não digam que
somos fofoqueiras", brinca.
(WILLIAN VIEIRA)
Colaborou JOÃO PEQUENO
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