São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Retificação do Tietê previa construção de piscinões

DA REPORTAGEM LOCAL

Por muito tempo o rio Tietê foi o limite ao norte de São Paulo. No entanto, as mesmas águas responsáveis por isolar a região do centro da cidade também serviam como ponto de encontro dos paulistanos.
Palco de namoros, piqueniques e competições esportivas -natação, remo e pólo aquático-, era às margens do rio que moradores e associados de clubes tradicionais, como o Esperia e o Tietê, se reuniam.
Quem se instalava do outro lado do rio, no entanto, tinha como único acesso ao centro uma precária ponte de madeira, sempre danificada pelas cheias. Batizada de Ponte Grande, ela ficava no final da atual avenida Tiradentes -seria uma virtual ligação desta com a Voluntários da Pátria, do outro lado. Foi derrubada na década de 40 e substituída pela atual ponte das Bandeiras.
Santana, fazenda que foi doada aos jesuítas, é o mais antigo núcleo urbano da zona norte. Virou bairro de classe média em 1950, depois da retificação do curso do Tietê para diminuir os danos das inundações.
A proposta de retificação do Tietê era antiga, mas as obras só começaram com Prestes Maia na prefeitura. O rio diminuiu em cerca de 20 km, o que fez com que sua velocidade e seu volume aumentassem.
O projeto previa que as águas fossem contidas por dois piscinões, nunca construídos -assim, o problema das enchentes nunca foi resolvido.
As enchentes atingiam principalmente a Vila Maria, que se desenvolveu na várzea do rio Tietê. Em uma das piores inundações, em 1929, o bairro ficou isolado por dois meses -o único acesso era por canoas.
Pistas foram então improvisadas às margens, mas, só nas décadas de 60 e 70, é que a construção da marginal se consolidou, facilitando o acesso à zona norte e pondo fim à época do rio como local de lazer.
A urbanização foi acelerada a partir da década de 80, quando a região tomou a cara de hoje. "Equipamentos públicos de grande porte aterrissaram na região como "ovnis'", brinca o arquiteto Guilherme Wisnik, ao citar as enormes construções da região: o Center Norte, o Anhembi, a antiga Casa de Detenção e o Campo de Marte.
Para Wisnik, a zona norte segue o modelo dos subúrbios nos EUA, com grandes edificações de beira de estrada a que só se chega de carro.
Wisnik salienta ainda a convivência deste mundo de grande porte com o ar de cidade do interior presente nos bairros da região, cheios de sobrados, pequenas casas e ruas estreitas. "Se você está imerso no bairro, tem uma sensação bucólica, mas isso é atravessado por uma infra-estrutura pesada. Há um convívio abrupto dessas duas realidades", diz. (MB)

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