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UM DIA APÓS OUTRO DIA
Pobre e violenta, região diz que vida melhorou
Para 63% dos moradores do extremo sul, conhecido como "Triângulo da Morte", a situação está melhor do que há cinco anos
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Buraco deixado por bala em vidro em Socorro, próximo à represa do Guarapiranga; extremo sul tem média de um homicídio por dia
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Do personagem das histórias
em quadrinhos, Djalma Oliveira Rios, 35, tem só o apelido pelo qual o tratam no extremo sul
da capital: Cascão. No mais, ele
é um sobrevivente e um dos
porta-vozes dos moradores da
região mais violenta de São
Paulo, que é também onde está
a maior parcela de pessoas que
ganham até dois salários mínimos (37%), seguida pelo noroeste (32,3%) e pelo extremo
leste da cidade (31,8%).
"A zona sul de São Paulo mudou muito, ainda lembro dos
tempos em que os corpos eram
recolhidos na minha rua por
uma carroça. Hoje tem banco e
shopping center no Capão [Redondo]", diz Cascão, bacharel
em direito, pai de três filhos e
avô de um menino de um ano.
Quando jovem, ele deixou o
trabalho de office-boy e a escola para ser ladrão de banco. Foi
preso. Cumpriu sete anos. "Na
tranca dura", como diz, escreveu cartas para trocar idéias
com o vizinho rimador da área,
Pedro Paulo Soares Pereira, 38,
o Mano Brown do Racionais
MC's, e "abandonou o crime
para viver do rap."
Em comum, além de serem
"sobreviventes do Capão Redondo", Cascão, do grupo de
rap Trilha $onora (com o cifrão
mesmo) do Gueto, e Brown denunciam há vários anos como é
a vida na região mais violenta
da cidade. No Trilha, Cascão
canta sobre a violência da zona
sul com seu filho Zequinha, 8.
E a população dos bairros
que transformaram Cascão e
Brown em dois dos mais reconhecidos rappers brasileiros
tende a avalizar o que eles cantam. Segundo a pesquisa Datafolha, no extremo sul da capital,
a segurança foi avaliada com
média de 3,7. A média paulistana é de 4,3. Apesar de a região
concentrar os crimes contra a
vida cometidos na capital, para
63% dos moradores entrevistados pelo Datafolha, a vida melhorou nos últimos cinco anos.
Por causa das centenas de
homicídios dolosos (intencionais) cometidos a cada ano nas
ruas dos microbairros que, juntos, formam Jardim Ângela,
Capão Redondo e Jardim São
Luís, o extremo sul ainda é chamado de "Triângulo da Morte".
Talvez por concentrar 28%
(177 assassinatos) dos homicídios dolosos da capital (que teve 630 casos nos primeiros seis
meses de 2008), 10% dos moradores da região disseram ter tido um parente ou amigo assassinado no último ano.
Cascão teve um irmão, Clesson, 14, assassinado pela Rota
(Rondas Ostensivas Tobias de
Aguiar), espécie de tropa de elite da Polícia Militar de São
Paulo, no Capão Redondo. Ele
e outros dois jovens pichavam
um muro e foram surpreendidos pelos policiais. "Quem liga?
A gente é filho de nordestino.
Ninguém está preocupado
quando matam aqui."
Queda
No extremo sul, a 6ª Delegacia Seccional Sul (Santo Amaro) coordena 13 distritos policiais, onde os 177 assassinatos
foram registrados. Graças ao
policiamento e à alocação das
forças de segurança nos pontos
onde as estatísticas constatam
mais ocorrências, o governo
paulista conseguiu baixar os
homicídios dolosos em todo o
Estado, isso desde 1999, e no
extremo sul não foi diferente.
Durante 2005, segundo a
Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a
6ª Seccional Sul registrou 717
homicídios dolosos. À época, a
cada dia, a média de pessoas
mortas na região era de 1,96.
Atualmente, o número é de um
caso aproximadamente.
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