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NO CÉU E NA TERRA
Barulho de aviões e carros atormenta moradores
Reclamações de excesso de ruído na zona sul superam média de SP; aeroporto, vias carregadas e música alta estão entre
as causas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
O excesso de barulho é a
principal queixa de 10% dos
moradores da região sul. Em
Moema, onde está o aeroporto
de Congonhas, o índice (15%) é
mais que o dobro da média da
cidade (7%). E o ruído não vem
só do ar: carros, bares e a vizinhança agravam o problema.
Com um escritório vizinho à
avenida Jornalista Roberto
Marinho, no Campo Belo, o representante de material médico Wilson de Almeida Filho, 62,
tem dificuldades até para escutar no telefone, por causa do
ruído dos carros. "É muito difícil, até com o ouvido grudado."
No Sacomã, segundo em reclamações sobre barulho, 12%
acham a poluição sonora o pior
de onde vivem. No distrito, está
a favela de Heliópolis, a maior
da cidade -a Subprefeitura do
Ipiranga, da qual faz parte, é a
nona mais barulhenta das 31 da
cidade, segundo dados até julho
do Psiu (Programa de Silêncio
Urbano) da prefeitura.
O maior problema, diz o comerciante Anderson José Filho, 44, de Heliópolis, é nos fins
de semana e feriados, quando
"muita gente abre o carro e liga
o som". O comerciante Antonio
Carlos da Silva, 46, concorda.
"Parece que se esquecem de
que há pessoas precisando dormir em casas muito próximas
umas das outras."
Na Vila Mariana, onde 10%
consideram o barulho o principal problema, o publicitário
Sérgio Teixeira, 32 sofre com
bares vizinhos. "Dá para ouvir
bastante o barulho das conversas." Depois que se mudou para
um apartamento de fundos no
mesmo prédio, ele diz que o incômodo melhorou.
Congonhas
"Às vezes, estamos assistindo ao jornal, tem uma notícia
que interessa e o avião passa
bem na hora. Temos que aumentar o volume correndo",
conta a advogada Roberta Lurbe Fonseca, 30, que mora em
uma cobertura em Moema.
A pedido da Folha, o professor João Baring, especialista
em acústica e controle de ruídos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP
mediu o nível de barulho produzido pelos aviões no apartamento da advogada. A média
foi de 80 dB(A) -decibéis na
escala "A", que ajusta as respostas do medidor para que ele se
comporte quase como um ouvido humano artificial. O recomendado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é de até 45 dB(A).
"O ambiente ruidoso é estressante para o organismo",
afirma o médico otorrinolaringologista Ektor Onishi, coordenador da Campanha Nacional
de Saúde Auditiva da Sociedade Brasileira de Otologia. Ele
próprio sente os incômodos do
aeroporto: morador de Moema, vê Congonhas de seu apartamento. Quando seu filho nasceu, há sete anos, decidiu que
não queria para o bebê os efeitos estressantes do barulho.
Instalou janelas anti-ruído.
Em Congonhas, a cada hora
são autorizados a pousar e decolar um avião a cada dois minutos, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
(TALITA BEDINELLI, JOÃO PEQUENO E RICARDO WESTIN)
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