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PERFIL DO MORADOR
Dona de bufê valoriza a vida prática da zona sul
Empresária vai a pé de casa ao trabalho e às compras; moradora de Moema, ela elogia sofisticação e agito do bairro
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Como nos últimos seis anos,
o aniversário dos gêmeos Leonardo e Carolina, 6, divide com
cores "de menino e menina" o
salão do bufê Splash Blue. Mas
a festa para centenas de pessoas "acaba mesmo sendo para
a mãe" -que vem a ser a dona
de uma das maiores entre as
mais de 40 casas para aniversários de crianças em Moema.
"Pensou em bufê infantil,
pensou logo em Moema, onde
as pessoas acham que é chique", diz Eliete de Araújo Rocha Negri, 49, em seu escritório
de paredes pastéis.
Um deles liga exigindo a presença expressa da mãe, acostumados que estão em acordar e
ir dormir com ela -depois de
rezar o pai-nosso, pulando uma
ou outra palavra. E ela estará lá
em minutos, já que mora a uma
quadra do trabalho, na mesma
rua Canário; ao lado da loja onde compra sapatos e em frente
à butique preferida -e a alguns
minutos a pé da manicure e do
cabeleireiro. "Moema é um
bairro de conveniência, de gente bonita andando na rua com
seus cachorros."
Gente que paga de R$ 4.000 a
até R$ 50 mil por uma festinha
para o filho, em um bufê com
minimontanha-russa, balões
na casa dos milhares, cavalinhos puxando carruagens e até
jogadores profissionais do São
Paulo Futebol Clube. Cerca de
90% dos clientes, segundo
Eliete, moram em Moema -a
maioria mulheres que "não
querem mais pôr, literalmente,
a mão na massa do brigadeiro".
No bairro parece que ninguém tem muito tempo a perder. Nem Eliete, que começa o
dia, quando pode, caminhando
no parque Ibirapuera, antes de
levar os filhos de carro até uma
escola bilíngüe. Trabalha então
quase dez horas, não sem passar em casa para ver como estão as crianças ou buscar algo.
"Aqui no trabalho sempre posso dizer: "Estou indo ali em casa
e já volto'", brinca.
Nota nove
Não que essa ilha de praticidade seja um bairro ideal. "Eu
daria uma nota nove." O trânsito e o barulho afastam a nota
dez. "Às vezes estou com uma
cliente ao telefone e tenho que
esperar dez segundos até passar o avião, mas isso é normal",
diz a morena de cabelos lisos,
pele bronzeada e maquiagem
leve, que circula com salto alto
e blusa de babados verdes pelos
salões do bufê, mostrando os
detalhes que fazem o salão conquistar os clientes do bairro.
Além dos brinquedos de parque de diversão e do chão
transparente com bonecos se
mexendo sob os pés de quem
entra para a festa, o grande
atrativo parece ser mesmo a
proximidade de casa. Ninguém
quer ficar horas no trânsito,
com crianças pulando no banco
de trás. "Tenho até cliente que
sai no meio da festa para comprar sapato na loja ao lado."
Quando essa goiana de Tocantinópolis (na época o Tocantins não existia e ela nasceu
em Goiás) veio para São Paulo,
aos 18, morar com um dos irmãos no Alto da Boa Vista, zona
sul, nem sonhava o que era
Moema. Estudou letras, virou
secretária executiva em um
banco, casou-se e foi morar no
Brooklin com o marido, um ex-piloto da Varig.
Aí decidiu montar um bufê,
em 1995. "Na época, Moema já
vivia o boom dos bufês infantis", diz e ela acabou levando
seu salão para lá, em 2000. Grávida dos gêmeos, ela e o marido
foram juntos. Hoje Eliete vê
nas ruas com nome de índios e
pássaros de Moema um resquício da infância goiana.
"Como sou de lá, me sinto em
casa aqui, onde ainda tem ruas
com cara de interior." Ela não
pensa em sair nunca mais da
rua Canário onde, diz, cansa de
ver passarinho voando na sacada do apartamento.
É esse bairro plano com ruas
arborizadas, barulhento, mas
acolhedor, que essa são-paulina (o filho obriga) não trocaria
por nenhum outro. "Moema
tem tudo, é segura, mas ainda
tem vida."
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