|
Próximo Texto | Índice
Coréia do Sul 3 x 1 Brasil
Associated Press
|
Coreanos sobem escada rolante em metrô de Seul, 'observados' por Roberto Carlos, Figo e Ronaldo |
FÁBIO SEIXAS
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Através da janela aberta pela
Copa do Mundo, os brasileiros
vão ter a oportunidade de ver a
partir deste mês uma Coréia do
Sul muito além da terra dos carros
Hyundai, do desastre econômico
de 1997 e do hábito de comer carne de cachorro.
Em vez das chocantes cenas de
confronto entre trabalhadores e
polícia de governo que ganharam
manchetes nos noticiários da TV
há poucos anos, o Brasil poderá
enxergar agora um país já reajustado economicamente, moderno,
bonito e pronto para co-sediar
um dos mais importantes eventos
do planeta.
Pelo menos por pouco mais de
um mês, a começar do próximo
dia 31 de maio, e ao lado do Japão,
a Coréia será o país do futebol.
Aí, essa nação asiática que nunca venceu um jogo em Mundial
passa a falar a mesma língua do
país que mais ganhou títulos na
história do torneio, o Brasil.
De históricos cultural, sociopolítico e esportivo tão diferentes, os
dois países guardam uma relação
curiosa, além de o Brasil se abrigar na Coréia durante a primeira
fase da Copa, de cerca de 50 mil
coreanos morarem aqui e quase
nada de brasileiros viverem lá no
Oriente, exceção feita a alguns diplomatas e jogadores de futebol.
No começo dos anos 50, Brasil e
Coréia choravam suas tragédias
nacionais, por razões e em
proporções bem distintas.
O primeiro porque havia sofrido em casa, na Copa de
50, a derrota até hoje mais
dolorida no esporte mais caro à nação. O segundo porque
viu sua nação destruída na
Guerra da Coréia, contra a
parte do norte.
Cada um com seus problemas e
frustrações, os dois países chegam
à década de 60 com níveis de desenvolvimento econômico e uma
renda per capita similares, por incrível que pareça.
Em 1961, Park Chung-hee tomou o poder na Coréia do Sul,
país que governaria com mão-de-ferro até ser morto (em 1979).
Três anos mais tarde, os generais
se apossariam do destino político
do Brasil.
Tanto lá como cá, os dois regimes militares se depararam com
países intrinsecamente distintos, mas com um potencial de crescimento parecido.
Todavia ambos iriam conhecer
modelos de desenvolvimento
bastante diferentes nas décadas
seguintes. Como resultado, a Coréia do Sul, que, na segunda metade do século 20, apostou num
modelo industrial exportador,
tem hoje um PIB (produto interno bruto) per capita quase o triplo
do brasileiro (US$ 9.656 contra
US$ 3.401, segundo a revista inglesa "The Economist").
Chung-hee admirava o bem-sucedido modelo de desenvolvimento adotado pelo Japão após a Segunda Guerra e decidiu moldar seu país ao exemplo nipônico.
Abastecida
por empréstimos japoneses e por pedidos
feitos pelos enormes conglomerados
daquele país, a Coréia do Sul
montou seus
próprios grupos de empresas, que receberam o nome
de chaebol
(Daewoo,
Hyundai,
Samsung e
muitas outras),
na década de 60.
Com o boom econômico japonês, a indústria de semicondutores sul-coreana alavancou o crescimento do país, que se diversificou e possui hoje um parque in
dustrial de altíssimo nível.
Após a recente crise financeira
que abalou, primeiro, os países
asiáticos e, depois, a Rússia e o
Brasil, o modelo industrial exportador sul-coreano foi colocado
em xeque, mas o país já recuperou seu impressionante potencial
de desenvolvimento e deve crescer 8,6% neste ano, segundo a revista britânica "The Economist".
O Brasil, por sua vez, depositou
sua fé econômica, nos anos 60,
num modelo de crescimento que
fechava as portas para as importações, distanciando-se do que havia de mais moderno no mundo industrializado.
Se a diferença sociopolítica entre as duas nações hoje é grande,
ela é muito mais acentuada em relação ao evento que vai unir Brasil
e Coréia neste ano. Enquanto a seleção brasileira já venceu 53 partidas em 16 Copas do Mundo, as maiores glórias coreanas no torneio foram quatro empates em
cinco torneios.
Cada um com suas glórias.
Próximo Texto: Política: País é regido por dois tipos de governo Índice
|