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APERTANDO O PASSO
38% se dizem inseguros ao andar à noite
Maioria (53%) dos moradores escapa do trânsito e vai ao trabalho a pé, mas sensação
de falta de segurança preocupa
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O editor de livros Paulo Werneck, 30, teve o carro furtado
há alguns meses. Não usou o dinheiro do seguro para comprar
outro. Afinal, já tinha planos de
vendê-lo desde que se mudou,
um ano e meio antes, e passou a
gastar três minutos cronometrados andando da porta de casa até a porta do trabalho.
Werneck integra a parcela
em que está a maioria dos moradores da área central: a de
pessoas que vão a pé ao trabalho (53%). Também faz parte
dos 37% que fazem o percurso
em até dez minutos -na região,
a duração média, de 24,5 minutos, é quase metade da média da
cidade, de 44 minutos.
Para Werneck, a região tem
ainda outra vantagem. "O centro tem uma arquitetura mais
interessante como conjunto,
com prédios antigos e bonitos."
Mas, se os moradores da área
central driblam o trânsito, têm
de enfrentar problemas como a
falta de segurança. Formada
em Turismo, Fernanda Versolato, 26, conta que a vida de pedestre que passou a ter depois
que deixou Santana, na zona
norte, é limitada. "Depois de
determinada hora, não volto
sozinha para casa. Às vezes saio
do escritório por volta das 21h e
já fico um pouco ressabiada."
Ela diz que seu entusiasmo
com o centro e com a possibilidade de deixar o carro de lado
tem prazo de validade. "Tenho
clareza de que morar no centro
é algo passageiro na minha vida", afirma. "Aqui não é um ambiente muito familiar."
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, há cerca de
2.000 moradores de rua na região central. O poder público
ainda tem outros nós a resolver. O mais evidente é o da área
da Nova Luz, ex-cracolândia, de
onde usuários de drogas foram
removidos, mas continuam a
viver no entorno.
República é recordista em
queixas sobre tráfico de drogas
(16%; a média de SP é de 2%) e
em moradores que dizem evitar certos locais depois que escurece (77%; a média de SP é de
58%) e que se sentem muito inseguros ao andar à noite (38%;
contra média de 19% em SP).
Moradora da praça Júlio
Mesquita, a jornalista Adriana
Ferreira, 36, evita sair à noite
ao ver da janela usuários com
comportamento violento,
"nóias", que passaram a procurar lugares para fumar crack no
centro. "Vieram para cá, saiu na
imprensa, a polícia apertou,
eles foram para a rua dos Gusmões e, assim, vão migrando".
Dono de uma imobiliária especializada em imóveis no centro, Oswaldo Lopes Filho diz
que a sensação de insegurança
na região está mais ligada a problemas sociais do que à falta de
policiamento: "Aqui é mais seguro do que qualquer outra região". Ele diz que a demanda
por imóveis tem crescido e que
os maiores interessados são
quem quer fugir do trânsito.
"A questão de conjugar trabalho e residência é ainda muito pequena para ser apontada
como tendência, mas já existe
em pequeníssima escala", afirma Regina Meyer, urbanista e
professora da FAU (Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo)
da USP, sobre o perfil de quem
vai morar no centro.
O administrador Rafael Martins, 30, levou às últimas conseqüências seu desejo de chegar rápido ao trabalho. Mudou-se de Moema, na zona sul, para
o edifício Copan, na Consolação, e agora apenas atravessa a
rua para chegar ao trabalho.
"Faço quase tudo a pé", diz.
O músico Clemente Nascimento, 45, é habitué do centro
desde o final dos anos 80, quando se casou e decidiu morar no
trecho da rua Augusta que fica
na região. "Eu não tinha carta
de motorista na época. Como é
meio do caminho, sempre encontrava alguém disposto a me
dar uma carona", diz.
Colaboraram JOÃO PEQUENO e MARIANA BARROS
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