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"Beleza" era preocupação já no auge cafeeiro
Pesquisador diz que isso era visível principalmente na arquitetura e na infra-estrutura urbana, mas também no vestuário
Uma das prioridades das cidades à época, segundo estudo, era se estruturar para conseguir inserção
no mercado capitalista
DA FOLHA RIBEIRÃO
A preocupação com a estética
já fazia parte da rotina ribeirão-pretana no auge do período cafeeiro, nas primeiras décadas
do século passado. Passear pelas ruas da cidade, especialmente as da região central, no
entorno do hoje chamado
Quarteirão Paulista, era quase
sinônimo de encontrar bons
trajes para a época.
"No vestuário é possível verificar isso de modo muito claro.
A população com poder aquisitivo tinha a questão do chapéu,
do terno e da gravata. Não deixa
de ser uma indicação nesse
sentido", afirmou o arquiteto
Rodrigo Faria, 35, doutor em
história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),
com pós-doutorado pela Universidade Politécnica de Madri
(Espanha), e pesquisador do
Centro de Estudos da Cidade
da Unicamp.
A praça 15 era, então, o grande espaço público e, por isso, local de interação entre as pessoas -principalmente da elite-, na avaliação de pesquisadores ouvidos pela Folha.
Segundo Faria, autor de "Ribeirão Preto, uma Cidade em
Construção (1895-1930)", que
discutiu os conceitos de beleza,
higiene e disciplina na cidade, a
preocupação com a estética era
mostrada principalmente em
sua arquitetura e na infra-estrutura urbana.
"Não só em Ribeirão Preto,
mas esse é um conjunto de
ações dos poderes público e das
pessoas no mundo todo. Era a
preocupação da cidade, de se
estruturar para ser inserida no
mercado capitalista. A idéia de
limpar, tirar a sujeira, ter água
e esgoto e, também, edificações, era o assunto da época",
disse o especialista.
Os teatros Carlos Gomes e
Pedro 2º foram os dois pontos
de ênfase do poder público e da
iniciativa privada no sentido de
instalar equipamentos belos, o
que é perceptível em imagens
da época disponíveis no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão. Para Tânia Registro,
historiadora do órgão, havia essa preocupação.
"A praça, no meio dos teatros, fecha o contexto. Qualquer ação que pressupõe promover arruamento ou colocação de palmeiras é uma ação
embelezadora. A gente não
desconecta a idéia de sanear
com a de embelezar. Em Ribeirão, os fazendeiros, com dinheiro, investiam para promover o que era interessante para
eles, que é o que acontece depois com a indústria", afirmou
a historiadora.
Desconstrução
O foco do trabalho de Faria
foi não questionar a beleza arquitetônica, mas desconstruir a
idéia de cidade rica, moderna e
progressista que Ribeirão sustentou com o passar do tempo.
"A beleza arquitetônica de fato Ribeirão tem, como a praça
15 e o Pedro 2º, que estão aí hoje. O foco foi questionar que as
coisas existiam, mas eram para
poucos, concentrada numa
área nobre, que hoje iria do
Sesc [rua Tibiriçá] até a estação
ferroviária [Jerônimo Gonçalves], hoje rodoviária, e a praça
Sete de Setembro. Nessa área
tinha tudo isso de estrutura."
Segundo o especialista, o fenômeno se repete hoje, com a
expansão da João Fiúsa e do
entorno do Jardim Botânico.
"Mostram a qualidade dessas
regiões com o descaso existente na zona norte. A Francisco
Junqueira é diferente dependendo do lado que você vai. Do
centro para um lado é uma realidade e, no mesmo eixo, para o
Quintino, é outra. Teve o progresso de cidade rica, mas a
renda é concentrada, e isso se
mantém. Ao Pedro 2º, parte da
população não tinha como ir,
assim como hoje."
(MARCELO TOLEDO)
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