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ARTIGO
Mayra Dias Gomes
Uma garota precisa ser incrivelmente
magra para caber
naquele vestido da nova coleção
da Triton. Precisa ser incrivelmente
magra para estar aos pés
das celebridades bem-sucedidas
do momento. Mesmo que sejam
celebridades famosas justamente
por não fazerem nada.
Celebridades que representam a
imagem da mulher e do homem
glamourosos do século 21. Aqueles
que estão por dentro das tendências
que mudam de forma e
de cor segundo as estações.
O boom da tecnologia no fi nal
dos anos 1990 não fez somente
com que a informação pertencesse
a todos, mas também com
que houvesse informações demais,
rápido demais. As pessoas
se acostumaram com as soluções
instantâneas e se tornaram
mais imediatistas e incapazes de
lidar com as frustrações.
Passaram a se sentir mais insatisfeitas.
Seja com os relacionamentos
amorosos, seja com a
auto-estima, seja com as peças
no armário. Isso certamente as
tornou mais receptivas ao sistema
ditatorial imposto pelas
indústrias de moda e de estética.
Sistema que promove suprimentos
de angústia que não
realizam suas promessas.
Para as insatisfações físicas,
há sempre a cirurgia plástica.
Para ter os seios da Scarlett
Johansson, a barriga da Gisele
Bündchen ou o nariz e a boca da
Angelina Jolie. Mesmo possuindo
belos corpos, muitos se submetem
à faca para se igualarem
a padrões estabelecidos em revistas
ou na TV. Preferem reclamar
ou se mutilar a se exercitar,
pois sabem que o resultado virá
com mais rapidez. Não há como
lidar com o longo prazo.
Dia após dia, convivemos com
a idéia de que certas compras são
verdadeiros investimentos e, ao
realizá-las, tornaremo-nos seres
humanos mais completos. Deixamos
nos enganar pelas abordagens
inteligentes que mexem
com nossas inseguranças. Caímos
de boca no anzol e nos sentimos
cada vez menos felizes.
Por não termos aquela quantidade
de dinheiro, aquele corpo
invejável, aquela fama toda. Não
que isso seja necessário para o
ser humano. É somente imposto
pela sociedade moderna.
Segundo o filósofo alemão
Schopenhauer, o prazer nada
mais é do que o momento fugaz
de ausência de dor. Não há satisfação
durável. É desse princípio
pessimista que se alimenta a
indústria do consumo. O que
importa não é encher uma casa
de bens, mas jogá-los fora quando
deixarem de trazer emoções
novinhas em folha.
A mesma idéia pode ser ilustrada
com um shopping center,
criado para proporcionar sensações
excitantes que existem
somente durante a estadia do
comprador no estabelecimento.
Mesmo quando o consumidor
adquire um celular que servirá
para conectá-lo em movimento,
está fazendo uma compra
datada. O aparelho logo sairá de
linha e será trocado por outro
com a mesma utilidade e algumas
funcionalidades banais a
mais. Só o visual será diferente.
É a obsolescência planejada,
ou, em outras palavras, tática de
marketing. É preciso fazer com
que os renegados da sociedade
de consumo sintam-se como
fracassados. Só assim permanecerão
sensíveis o suficiente
para acreditar em tantas falsas
promessas.
MAYRA DIAS GOMES, 20, é autora do romance
"Fugalaça" (Record)
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