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PENTA
Treinador se fascina com ambiente na Copa, mas pensa em seguir os passos de Parreira
Maravilhado, Scolari hesita entre Europa e permanência
DOS ENVIADOS A YOKOHAMA
O deslumbramento de Luiz Felipe Scolari está completo. Em 30
dias de Copa, o neto de colonos
italianos nascido no interior gaúcho descobriu o mundo como
nunca fizera antes. Ao final, conquistou-o. É pentacampeão.
Retranqueiro, rígido, estourado, motivador, teimoso, paizão,
conservador, fiel, tosco, bondoso,
pão-duro, catimbeiro. O treinador da seleção mais fácil de ser adjetivado nos últimos anos ganhou, desde que assumiu o time
nacional, em junho do ano passado, um novo rótulo: encantado.
Primeiro se confessou atordoado com o abismo entre clube e seleção, com vertigem e enxaqueca.
Durante o Mundial, a surpresa
virou arrebatamento. Com a nata
do futebol brasileiro à sua disposição, ele parecia no início uma
criança fascinada com a fartura.
Sentindo a ansiedade do treinador, a psicóloga e amiga Regina
Brandão, a quem Scolari pagou
do próprio bolso uma assessoria
antes do Mundial, já que a CBF
não quis fazê-lo, interpretou:
"Não é fácil para uma pessoa que
saiu do interior do Rio Grande do
Sul estar no meio da berlinda, exposta ao mundo inteiro".
De tão embriagado, Scolari, 53,
mudou seus conceitos e aniquilou
preconceitos dos críticos, escalando nos primeiros jogos um time
ofensivo e com deficiências no setor com o qual sempre teve mais
preocupação, a defesa.
O ataque dos "erres" manteve a
eficiência, e a defesa se arrumou.
O time jogou a Copa num esquema variável entre o polêmico 3-5-2, com três zagueiros, já testado
por Sebastião Lazaroni em 1990, e
o tradicional 4-4-2.
Scolari conheceu os bastidores
da Copa, conversou com os melhores técnicos, viu os melhores
jogadores e as táticas empregadas
por equipes de 31 países.
Chamou o Mundial de "palco
maravilhoso", admitindo que jamais imaginara ter vivido tal experiência. E quer repetir a dose.
Campeão e tendo terminado o
contrato com a CBF, terá de dar
uma resposta ao convite da entidade para permanecer no cargo,
hipótese que, por recomendação
de amigos, já tinha descartado.
Os que o aconselham argumentam que o ápice é o melhor momento para deixar o time para entrar na história. Citam sempre
Carlos Alberto Parreira, que saiu
após o tetracampeonato.
Caso ouça os amigos até o fim,
seu destino deve ser a Europa, onde já confessou que sonha em trabalhar -e de onde devem surgir
agora algumas propostas.
Por outro lado, gostou tanto da
experiência da seleção e está tão
feliz com o apoio dos brasileiros
que fica tentado a ficar. Vai passar
uma semana de folga no Rio
Grande do Sul e pensar. Nesse período, deve ir a Farroupilha, ao
santuário de Nossa Senhora de
Caravaggio, sua santa de devoção,
agradecer a graça alcançada.
Natural de Passo Fundo (RS),
marido de Olga e pai de Leonardo, 18, e Fabrício, 15, formado em
educação física e ex-professor da
matéria em colégios gaúchos,
"Felipão" chegou à seleção nos
braços do povo (pesquisa encomendada pela CBF apontou-o como o preferido dos brasileiros para suceder Leão), indignou a torcida ao desprezar Romário e reconquistou-a durante a Copa.
Conseguiu, enfim, impor seu
carimbo à seleção. Numa época
em que treinadores ofuscam craques, alterando às vezes o linguajar dos amantes do futebol -que
falam do Corinthians de Parreira
em vez do Corinthians de Ricardinho-, essa seleção deu algum
sentido à estranha mudança.
O time pentacampeão do mundo será sempre lembrado como o
Brasil de Ronaldo ou de Rivaldo.
Mas não serão poucos os que recordarão a equipe campeã no Japão como o Brasil de Felipão.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO
BOMBIG, PAULO COBOS, ROBERTO DIAS,
RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)
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