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Juca Kfouri
Viva a diferença!
Viver no abismo, ou à beira dele, é coisa que alguns torcedores sabem e outros preferem não aprender
O VIRTUAL bicampeão brasileiro Cruzeiro joga hoje na situação de favorito contra o Corinthians.
Nenhum cruzeirense com a responsabilidade de participar do jogo admitirá, mas é isso mesmo: os mineiros são favoritos tamanha a diferença entre o futebol que estão jogando em relação ao dos paulistas.
Óbvio que pode perder, nem precisa dizer por que, mas, se tudo correr normalmente, não só o Cruzeiro se manterá sobranceiro na ponta como deixará o Corinthians perigosamente perto do abismo.
Só que não é desta diferença que fala o título da coluna. A diferença referida é a que existe nos comportamentos de corintianos e são-paulinos no momento em que seus times se aproximam na tábua de pontuação, o tricolor subindo com três vitórias seguidas e o alvinegro caindo com três derrotas consecutivas.
O fiel está mais que acostumado a conviver com situações dramáticas, humilhantes mesmo. A tal ponto que costuma fazer do limão limonada, como se viu quando frequentou a Série B.
O soberano não sabe o que é isso e não faz a menor questão de saber, muito ao contrário, sequer aceita que já esteve em situação semelhante no campeonato estadual.
Deixando claro que a referência aqui é o torcedor padrão, não o uniformizado nem o fanático amargo, por mais que o Corinthians tenha vencido tudo nos últimos tempos e por mais que seja impensável um novo rebaixamento, há uma casca dura que protege suas costas e seus sentimentos. Diferentemente do que se dá com o São Paulo, há considerável período sem ganhar nada importante, porque até o troféu continental que conquistou foi superado pela derrota na Recopa para o rival.
Mas estamos tratando do clube mais jovem entre os grandes e maior vencedor, único tri mundial, único tri brasileiro em anos consecutivos, único uma porção de coisas.
Em bom português, e por mais que caibam diversas interpretações para o bem ou para o mal, o corintiano comum lida muito melhor com a frustração que o são-paulino, o que provavelmente explica que tenha se multiplicado mesmo nos tais 23 anos de jejum.
É nestes momentos de baixa que o corintiano faz valer a máxima de que ser campeão é detalhe, ao passo que o são-paulino acha que é obrigação.
Alguém dirá que os tricolores são altivos e os alvinegros conformados. Outro argumentará que os primeiros são racionais e os segundos emocionais. Não importa quem tenha razão, se é que razão há.
Importa apontar a diferença que ficará ainda mais patente se o São Paulo ultrapassar neste domingo o maior rival, possibilidade plausível, com sua vitória no Serra Dourada e a anunciada derrota corintiana no Pacaembu. Imagine a festa.
E se der o contrário?
Será outra festa.
Diferentes entre si.