Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Maracanazo
Reinado espanhol chega ao fim na mais precoce eliminação de um campeão mundial desde 50
O reinado espanhol no futebol chegou ao fim, e os caminhos para a linha sucessória ainda estão muito abertos, tão cedo tombou o detentor do título mundial.
Mas a própria cena da decapitação dos campeões, no Maracanã, oferece pistas sobre a nova ordem da bola.
Talvez nunca o futebol tique-taque tenha parecido tão envelhecido como na derrota da Espanha para o Chile, por 2 a 0, nesta quarta (18).
Assim como na humilhante derrota para a Holanda, os atuais campeões mais uma vez tiveram maior controle da bola. E perderam para um time que, se bebeu na mesma fonte dos espanhóis (a Laranja Mecânica holandesa de 1974), soube adaptar a fórmula para um futebol mais eficiente. Marcou duas vezes com menos da metade dos chutes a gol do adversário.
Numa Copa marcada por mais pontaria nas finalizações que as duas anteriores (39%, segundo o Datafolha), a falta de poder de fogo revelou-se uma debilidade ainda maior que os espanhóis previam.
Mas não foi o único fator a enterrar a melhor geração que o país já teve --e umas das melhores que o futebol já viu.
Ela foi ao abismo pela falta de renovação: trouxe 16 dos 23 campeões, recorde de conservadorismo. Contra o Chile, o técnico Vicente del Bosque até barrou duas das estrelas de 2010 --o zagueiro Piqué e o meia Xavi.
Pesou também a falta de forma de seu capitão, o goleiro Casillas, que voltou a falhar, no segundo gol do Chile.
Faltou sorte na busca por um artilheiro, desesperada a ponto de naturalizarem o brasileiro Diego Costa. Vaiado, ele pouco rendeu.
Sobrou soberba, dado que os espanhóis já chegaram avisando que eram favoritos.
"Estivemos no mais alto e agora estamos no mais baixo", disse Iniesta, o autor do gol que valeu a taça em 2010.
A Espanha é a terceira campeã europeia seguida a cair na primeira fase na defesa do título, repetindo a França em 2002 e a Itália em 2010.
Mas o baque é mais representativo que os anteriores, porque ocorreu já no segundo jogo --a mais precoce eliminação de um campeão a defender o título desde 1950-- e porque os espanhóis ganharam mais títulos seguidos: uma Copa e duas Eurocopas.
Foi o terceiro tombo da Espanha no Maracanã: 6 a 1 para o Brasil na Copa de 1950 e 3 a 0 na final da Copa das Confederações, em 2013.
Se o Maracanazo brasileiro edificou o complexo de vira-lata, o Maracanazo espanhol desafinou o tique-taque do futebol mundial. Pois, como disse o próprio Del Bosque, "é óbvio que o que acontece na Copa tem consequências".