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Análise Oberdan Cattani
Ex-goleiro sempre foi o maior símbolo de amor alviverde
PAULO VINÍCIUS COELHO COLUNISTA DA FOLHAOberdan costumava contar sobre o dia em que saiu da região de Sorocaba de caminhão para fazer o teste no Palestra Itália. Sentado nas arquibancadas do antigo Parque Antarctica, apontava o gol onde fez seu primeiro treino, falava sobre como era o campo antes de ser jardim suspenso, como se emocionou ao se tornar jogador do seu clube do coração.
Dizia com gosto: "Corinthians é adversário, São Paulo é inimigo!". Referência ao período da guerra, quando o tricolor tentou se apropriar do Parque Antarctica e tornou o clima ainda mais bélico, uma das causas da mudança de Palestra para Palmeiras.
No primeiro jogo com o novo nome, Oberdan carregou a bandeira do Brasil na entrada em campo. Era clássico justamente contra o São Paulo, vencido por 3 a 1.
Nos arquivos alviverdes, a súmula do jogo tem a frase: "Fugiu!". O São Paulo abandonou o campo depois de sofrer o terceiro gol.
Com o resultado, o Palmeiras foi campeão paulista e isso deu origem à expressão "o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão!".
Oberdan Cattani morreu na sexta-feira (20) aos 95 anos. É o maior símbolo de amor pelo Palmeiras.
Depois de Marcos, é difícil tratá-lo como o melhor goleiro da história do clube. O Palmeiras ganhou seu título mais importante, a Libertadores, por causa do goleiro campeão mundial de 2002.
O título mais festejado da época de Oberdan, a Copa Rio de 1951, teve Fábio Crippa de titular. Mágoa eterna para o símbolo do amor alviverde.
Outro ressentimento de Oberdan foi a demora em aprovar o busto em sua homenagem que fizesse companhia aos de Junqueira, Waldemar Fiúme e Ademir da Guia nos jardins do Parque Antarctica. O busto nunca foi construído, mas haverá um no novo estádio e também a escultura de suas mãos enormes que já existia na velha sala de troféus.
O Palmeiras está de luto e o futebol brasileiro também.
Em época de Copa, vale a lembrança de seus nove jogos pela seleção. Sua última partida, Brasil 1 a 0 no Chile, rendeu o vice-campeonato sul-americano de 1945.
No jogo seguinte, duas semanas depois, Barbosa estreava como titular. Nunca se saberá se as enormes mãos de Oberdan poderiam ter feito algo mais diante de Ghiggia.