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Vila Madalena? Nem morta

Frequentadoras colocam o bairro na geladeira e dizem que só dão as caras por lá depois que a Copa passar

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Não são apenas os taxistas que dão marcha a ré no carro quando o destino desejado é a Vila Madalena. Na contramão das intermináveis micaretas, animadas por grande número de estrangeiros nestes tempos de Copa, um grupo de paulistanas resolveu colocar a região na geladeira até o fim deste Mundial.

Em sua última passagem pela Vila, Ericka Zahil, 25, ficou decepcionada com o que encontrou por lá, no sábado (28). "Não é mais a Vila. Virou outra coisa", dizia ela, enquanto se recompunha sobre um salto de 15 cm, depois de quase tropeçar numa montanha de lixo e de desviar-se dos cacos de vidro que agora se espalham pelas ruas.

Durante a jornada, teve ainda de driblar a marcação cerrada de brasileiros e estrangeiros. "Xaveco de bêbado? Tô fora!" Pensou em jantar num dos restaurantes, mas o fedor de xixi e outros odores a desencorajaram. Com menos de 20 minutos de perambulação, jogou a toalha. Pagou R$ 40 de estacionamento e foi para o Itaim. "À Vila não volto tão cedo."

Para a empresária, o astral de paz e amor que caracterizava as ruas do bairro foi trocado por um clima pesado, com drogas e muita bebedeira. "Os homens que vão lá não respeitam as mulheres. Acham que toda brasileira é vagaba'. Só volto para lá depois que a muvuca acabar."

Na última sexta (4), cerca de 70 mil pessoas acompanharam o jogo da seleção na Vila, segundo a PM. A turma produz, além de paquera e barulho, lixo em grandes quantidades --nas duas últimas partidas, foram recolhidas 92 toneladas de detritos.

'FIM DO MUNDO'

Assídua frequentadora de bares como o São Bento, o Filial, o Quitandinha e o Genésio, a nutricionista Camila Zanini, 26, também vai dar um tempo. "Do jeito que está, não dá. Vá à Vila Madalena, mas não me convide", dizia.

Um dos bairros mais aconchegantes de São Paulo, a Vila Madalena, com seus bares, cafés, lojas, galerias, ateliês de arte, poetas de rua e muros estampados de coloridos grafites, tornou-se, ao longo do tempo, ponto de encontro de diferentes tribos urbanas.

Segundo Camila, porém, a Vila Madalena mudou seu perfil. "O bairro sempre foi frequentado por um pessoal despojado, descolado e bonito, mas, agora, as ruas estão tomadas por um público bem diferente."

Para essa turma de baladeiros desencantados, a região nem parece a Vila Madalena. "Gente bebendo no gargalo da garrafa no meio da rua, calçadas fétidas, com lixo para todo lado. Isso não é a Vila", fez questão de dizer Camila, assegurando que sua avaliação não era preconceituosa, mas calcada na observação. "Não quero desprezar ninguém. Todo mundo tem o direito de se divertir, mas com o mínimo de civilidade. O público caiu do A para o C."

Presidente da Savima (Sociedade Amigos da Vila Madalena), Cassio Calazans de Freitas, 57, concorda que as pessoas que atualmente participam das micaretas na Vila não fazem parte do público que tradicionalmente costuma circular por lá.

É fato que, nestes dias, além de se esquivarem dos ambulantes, os passantes vão topar com gente brigando no meio da rua, resultado da bebedeira generalizada.

Acostumada a frequentar os bares da Vila nas noites de sábado e nas tardes de domingo, Ana Foger, 30, levou um susto com o que encontrou nos dias de jogos. "O que eu vi não é a Vila Madalena", disse. "É vergonhoso: mulheres tirando a roupa para fazer xixi na calçada, oferecendo-se para os caras, vendedores de droga no grito. As pessoas agem como se estivessem às vésperas do fim do mundo."

E, pelo jeito, vão agir assim até o fim da Copa, no dia 13.


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