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Elemento surpresa
Impedimento é uma coisa de louco; sem a linha do replay, eu jamais veria
TAÍS GASPARIAN ESPECIAL PARA A FOLHANão entendo nada de futebol, mas adoro Copa. Ou pelo menos adorava.
Meu primeiro contato com a Copa foi em 1970. Lembro-me daqueles jogos como se fossem hoje, e eram lindos.
Mal me lembro da partida contra o México, há duas semanas, mas tenho boas recordações de Brasil x Inglaterra, em 1970. Não sei se eram belos mesmo ou se a memória, nostálgica, deu esse efeito. Atualmente falta magia, e os jogos são feios.
Em primeiro lugar, a violência é assustadora. Sempre foi assim e só agora a tecnologia nos permite ver?
Incrível como esses jogadores se chutam e sacaneiam uns aos outros. Na hora do escanteio, é hilário como se agarram. Isso não deveria ser proibido? É permitido segurar o adversário para impedir? A tecnologia que ajuda a ver esses horrores não poderia servir para puni-los?
Um enigma é o modo como se joga: não entendo qual a razão de um goleiro chutar alto e forte daquele jeito, como se pretendesse, da sua base, cravar um gol no adversário. Sempre dá errado.
Além de não fazer gol --que, afinal, é o objetivo--, inevitavelmente ainda perde a bola para o outro time.
Impedimento é coisa de louco. Não fosse aquela linha que aparece no replay para ajudar a entender, eu jamais veria quando acontece.
E os comentários dos locutores? Completamente ridículos, cheios de estatísticas sem sentido e que são esquecidas no instante seguinte.
Será que o locutor na TV precisa falar o tempo todo? Só pode ser obrigação contratual: não é possível falar tanto sem dizer coisa alguma.
Narrar jogo é uma arte que requer talento e até revela personalidades, sobretudo em rádio. Mas não entendo o sentido dos comentários nesses últimos tempos.
Outra coisa que não dá para engolir é o marketing. Deveria ser obrigatório ganhar a Copa antes para só depois participar de propaganda.
Por último, mesmo sem entender nada, me parece que a frase de Nelson Rodrigues é mais do que nunca atual: no futebol, o pior cego é o que só vê a bola.
Já passou da hora de o Brasil mudar a organização e a direção de seu futebol.