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Professora

Fã de Muricy Ramalho, Nilmara Alves assume posto de técnica de time da quarta divisão do Paulista e comanda elenco de 38 homens

LEONARDO LOURENÇO
ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGUETÁ

As unhas bem-feitas, o cabelo comprido, cuidadosamente amarrado para trás. Grandes brincos de argola que atraem o olhar de longe. E um apito na boca, porque é preciso ter a atenção dos 38 marmanjos que correm e gritam no campo de treinos.

Nilmara Alves, 31, orienta o posicionamento e corrige a movimentação. Todos ouvem atentos. E obedecem.

Afinal, ninguém pretende contrariar as ordens do chefe. No caso, da chefe.

Nilmara é a treinadora do Manthiqueira, clube de futebol de Guaratinguetá (a 178 km de São Paulo) que atua

na Segunda Divisão do Campeonato Paulista (como é denominada a quarta e última divisão do Estadual).

Acredita-se que ela seja a primeira mulher no Estado a comandar uma equipe profissional masculina. Mas a falta de registros, tanto da FPF como do Sindicato do Técnicos de Futebol de São Paulo, impedem a comprovação desse pioneirismo.

"Eu já trabalhava no clube, mas fiquei surpresa com o convite", afirma Nilmara, fã de Muricy Ramalho, que era a preparadora física do Manthiqueira na temporada passada, a primeira do time.

"Mas pensei bem e resolvi aceitar. É mais um desafio na minha vida", diz a treinadora, zagueira e capitã de um time amador de Aparecida, cidade vizinha em que mora.

A carreira que ainda engatinha e o começo vitorioso -2 a 0 sobre o Ecus, fora de casa, na estreia do torneio, há uma semana- ainda não permitiram a Nilmara conhecer a rotineira pressão que existe sobre técnicos de futebol.

Nada que a preocupe. "Quando perde, a culpa é nossa. Mas estou preparada", afirma. Nem os xingamentos adversários -ou até os da própria torcida, tão comuns- fazem Nilmara perder o sono.

"Eu sei que vão falar bastante, vão tentar me enervar. Mas tive sorte: o primeiro jogo foi com portões fechados", afirma a treinadora, que hoje faz seu primeiro jogo em casa, contra o Joseense.

Dentro de campo, Nilmara faz o tipo comedido. "Sou tranquila. A gente trabalha duro na semana, e os jogadores sabem o que fazer. Se precisar, chamo alguém no canto, oriento, e segue o jogo."

Para os atletas, o respeito com a professora, como é chamada, independe do tom de voz ou das pulseiras.

"No começo, a ideia pareceu estranha, mas com a convivência a gente percebeu que ela conhece", diz o atacante Sidinei, titular do time.

Fora do clube, Nilmara diz que também é reconhecida. "Pesquisei na internet, em blogs, e tem muita gente apoiando", afirma. "Mas alguns escrevem que mulher tem que ficar na cozinha", ri a técnica do Manthiqueira.

"As pessoas falam bem, dão incentivo", diz Nilmara. "Estou me divertindo", declara a treinadora do Manthiqueira, pouco antes de deixar o centro de treinamentos do clube em uma moto. Protegida por um capacete rosa.

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