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Muricy perde fama de retranqueiro
SANTOS Em 25 de março de 2006, começava assim o noticiário da Folha sobre certo time tricolor: "Após reunião, São Paulo abole futebol bonito". Na reta final do Campeonato Paulista, o técnico Muricy Ramalho recitava a cartilha do pragmatismo: "No futebol, o que conta são as vitórias", dizia a seus atletas. Queria o triunfo a qualquer custo, mesmo ao custo da beleza, da habilidade, dos gols. E ratificava a mensagem no dia seguinte. "Temos de praticar o futebol de resultados". O São Paulo aprendeu a lição de Muricy. Perdeu aquele Paulista. Mas ganhou três Brasileiros seguidos jogando futebol feio, de poucos gols, sem dar espetáculo e com muita eficiência defensiva. Assim era Muricy antes e depois do São Paulo. No São Caetano, no Internacional, no Fluminense, no Náutico, ele sempre montou times campeões, sem ter a ofensividade como sua marca maior. Ganhou a fama de retranqueiro, embora quase sempre tenha sido um vencedor. Mas aí o Santos surgiu na vida de Muricy, após ele ter recusado o comando da seleção. E então Muricy mudou. Pela primeira vez na carreira, o técnico paulistano criou um time campeão e que jamais abdica dos gols, mesmo com o resultado garantido. O técnico retranqueiro virou o comandante da equipe que encanta todas as torcidas por jogar futebol ofensivo. "O Santos está voltando a ser o que era. Todo mundo quer ver o Santos jogar, mesmo quem não é santista", disse Muricy anteontem, depois do tricampeonato estadual e seis anos depois de ser o advogado do pragmatismo. Os números quantificam a mudança nas práticas e nos discursos. O Santos de Muricy, e de Neymar, tem média de 2,5 gols por jogo em 2012. É bem superior à média do São Caetano campeão paulista de 2004, onde Muricy conseguia dois gols por partida. E maior ainda que a das campanhas do São Paulo tricampeão brasileiro de 2006 a 2008, equipe que marcou 1,74 gol por confronto. Obviamente, a qualidade do material humano que o técnico tem em mãos influencia no desempenho do time. Se as estrelas do clube que Muricy treina hoje são Neymar e Ganso, as do São Paulo eram Hernanes, Lugano e Rogério, todos de defesa. "Às vezes, o papel do técnico é não atrapalhar os jogadores", observou o treinador após a final no Morumbi. "E eu estou trabalhando com os melhores do mundo." O casamento entre Santos e Muricy, que fez bodas de papel -um ano - em abril, rendeu mais ao técnico. Foi no Santos que ele perdeu a fama de não saber jogar mata-matas: já ganhou três e caminha ao quarto, a Libertadores-12. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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