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Eurico sai do Vasco após escândalos e conquistas
Depois de 20 anos no poder, cartola dá lugar a Roberto Dinamite na presidência
Era do dirigente acumula dívidas e várias denúncias de cartolas, mas também três títulos do Brasileiro
e uma Taça Libertadores
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não acho nada. Não tenho
nada a dizer. Se você ouviu coisas positivas e negativas, ponha
as negativas." Assim Eurico Miranda respondeu ontem à Folha ao ser questionado sobre
seus cerca de 20 anos como homem forte do Vasco, na véspera
de entregar o cargo de presidente a Roberto Dinamite, eleito na última sexta-feira.
O dirigente -que virou sinônimo de cartola- sai de São Januário deixando um rastro de
títulos, denúncias de enriquecer e se aproveitar do clube, dívidas, processos judiciais, brigas, inimigos e amigos leais.
Derrotado, diz deixar a cena
para cuidar da família, mas ainda quer ficar no Clube dos 13.
Fato é que se encerra seu comando centralizador no clube,
em que cuidava da venda do
melhor jogador ao prego da arquibancada, segundo funcionários. Verdade que, nos últimos
tempos, vinha delegando tarefas aos filhos, embora mantivesse rédea sobre o clube, aonde chegou ainda nos anos 60.
Desde 1989, quando virou vice de futebol, Eurico levou o
Vasco a três títulos Brasileiros,
a uma Libertadores, a cinco Estaduais e a uma Mercosul.
O Vasco consolidou-se como
segunda torcida do Estado,
atrás do Flamengo, rivalidade
enfatizada pelo dirigente. "Eurico nos fez ter orgulho de ser
vascaíno", disse o ainda vice jurídico do clube, Paulo Reis, que
o acompanhou por 20 anos.
As campanhas no gramado
levaram a torcida a elegê-lo
duas vezes deputado federal,
em 1994 e 1998. E atraiu o Bank
of America para parceria com o
Vasco, no final da década.
No auge, Eurico enfrentou
até o então governador Anthony Garotinho quando caiu o
alambrado do estádio de São
Januário, na final do Brasileiro,
entre Vasco e São Caetano. O
cartola tentava reiniciar o jogo,
com mais de uma centena de
feridos, vários em campo.
Simultaneamente, as CPIs
do Congresso se desenrolavam
em Brasília. O relatório final da
comissão do Senado mostrou
que US$ 11 milhões da parceria
com o banco americano foram
depositados num paraíso fiscal.
O documento indicava que o
clube, por meio de laranjas, pagou contas pessoais do dirigentes, incluindo de sua família,
além de relatar seu enriquecimento no período.
Foi pedida a cassação de seu
mandato, mas ele só saiu por
não se reeleger, em 2000.
Em meio às denúncias, brigou com a Globo, de quem era
aliado. Depois, fizeram acordo.
O fim da parceria e os investimentos no futebol e no amador
arruinaram as finanças. Choveram ações trabalhistas e fiscais.
A chapa de Dinamite avalia
entre R$ 250 milhões e R$ 300
milhões a dívida do clube. Aliados de Eurico negam: dizem
que débitos foram negociados.
"Ele fez coisas positivas e negativas no clube. Vamos desenvolver as positivas e apagar as
negativas", analisa Dinamite.
Craque-símbolo da era Eurico, Edmundo tem trajetória
que retrata o estado do clube.
Já brigou duas vezes judicialmente. Voltou a São Januário
após um acordo. E se tornou
credor de R$ 7 milhões, que recebe por cotas de TV.
"[Eurico] Pode inibir ou assustar o interlocutor. Depende
de como se dirige a ele", contou
o advogado de Edmundo, Luiz
Roberto Leven Siano, que já
acionou e foi acionado por ele.
Quem é próximo de Eurico
ou trabalha com o cartola, diz
que ele cumpre a palavra e até
dá espaço ao interlocutor. Mas,
depois, reafirma sua posição.
E costumava falar sobre futebol com os técnicos do Vasco.
"Gosta de discutir tática. Diz
que Fulano e Beltrano podiam
ter feito de tal forma. Mas é em
bate-papo informal, sem interferência" disse o ex-técnico do
Vasco Alfredo Sampaio.
Só que Eurico interferiu, sim,
quando Romário era treinador.
Quis impor uma escalação, e o
ex-jogador se retirou do clube.
Foi uma decisão em fase de
derrotas. Como presidente, Eurico só ganhou um Estadual. O
Vasco está há cinco anos na fila.
Época em que o cartola já vinha delegando poderes e até se
afastado por períodos. Agora,
sai às 20h de hoje. Até lá, Eurico
mostra apego ao cargo.
"Não sei se saio às 20h ou
20h30. Só sei que sou presidente do Vasco até terça [hoje]."
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