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FUTEBOL
Gostoso é ver gol de craque
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
É triste, lamentável, assistir
à saída de tantos jogadores
brasileiros. Durante um tempo, lá
pelas décadas de 60 e 70, era proibida a importação de jogadores
pela Europa. Já pensou ver uma
partida entre Santos e Botafogo?
De um lado, Pelé, Zito, Carlos Alberto, Coutinho, Pepe. Do outro,
Nilton Santos, Didi, Garrincha e
outros craques. Eu vi.
Imagine hoje um jogo pelo Brasileiro com as presenças de Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto
Carlos, Cafu, Kaká, Alex, Juninho
Pernambucano e outros.
A razão principal dessa situação é econômica. O Brasil é um
país rico, com o povo e os clubes
pobres. Qualquer time de fora leva o atleta brasileiro, e alguns
ainda lucram na transferência
para um grande time da Europa.
Muitos clubes brasileiros foram
aniquilados pela incompetência e
falta de seriedade de dirigentes.
Mesmo com boas administrações,
será necessário um longo tempo
para se recuperarem.
O problema não é só financeiro.
Como mostrou a Folha, as 24
equipes do Brasileiro utilizaram
707 jogadores em 18 rodadas, com
um média de 29,5 por time. Dezessete equipes trocaram de técnico. Além da má qualidade individual, não formam bom conjunto.
Os clubes planejam e contratam
mal e depois dispensam jogadores, com prejuízo. Nesse momento
de penúria, é fundamental descobrir jovens talentosos ainda não
valorizados. Parece que os clubes
de menor tradição sabem fazer isso melhor do que os ditos grandes.
Os clubes precisam também
contratar profissionais com mais
qualidade para as comissões técnicas dos times principais e das
categorias de base. No futebol, como em quase toda a sociedade
brasileira, as pessoas são escolhidas e elogiadas muito mais pela
amizade, sociabilidade e interesses comuns do que pela competência. "É dando que se recebe",
uma praga nacional.
Vivemos ainda a época da propaganda, do espetáculo, da imagem, do que parece e não do que
é. O importante é vender bem,
não fazer bem. Algumas vezes
vende-se também a alma, percebendo ou não. O interesse de outros países já chegou a alguns técnicos brasileiros e até à imprensa.
Fui convidado para escrever numa revista da Ucrânia. Se aceitasse, como eles iriam traduzir cabeça-de-bagre, brucutu, pontapé e
outros termos e palavras?
Os atletas só vão para o exterior
se quiserem. Assim como eles
adoram repetir gestos bobos e
agressivos de companheiros, que
mandam os torcedores do seu time e do adversário calarem a boca na comemoração de um gol,
muitos jogadores querem ir para
fora, para qualquer país, porque
outros vão.
No final de suas carreiras, muitos lamentarão os momentos infelizes que passaram em lugares
estranhos, a diminuição de prestígio e de chances de jogarem na seleção brasileira e a perda de dinheiro em outros contratos.
É preciso fazer alguma coisa para melhorar o futebol brasileiro.
Ricardo Teixeira anunciou que, a
partir do próximo ano, será a
proibida a saída de jogadores durante o Brasileiro.
Mesmo quem não entende nada de futebol, desconfia que isso
será derrubado na Justiça, pois
obstrui a liberdade do cidadão de
trabalhar onde quiser.
Em vez disso, seria melhor
adaptar o calendário brasileiro
ao europeu. Como os clubes da
Europa só podem contratar antes
do campeonato e no final ou início de ano, os times brasileiros
perderiam poucos jogadores durante a competição.
Outras maneiras de amenizar a
grave situação dos clubes são eles
elaborarem melhor as multas rescisórias e o tempo dos contratos
dos atletas e aumentarem a arrecadação com a venda de seus produtos e marcas.
É preciso ainda diminuir o número de times e a duração do
Brasileiro, construir e reformar
estádios, melhorar o conforto e a
segurança dos torcedores e mudar o horário de 21h45.
O governo deveria financiar os
clubes, como faz com qualquer
empresa particular, ou o futebol,
por ser um esporte de interesse
público, deveria ser tratado de
uma maneira especial? É um assunto polêmico. Uma coisa é certa: o governo não pode ajudar
clubes que dão calotes e não pagam corretamente os impostos.
Futebol sem craques não dá.
Em alguns instantes, me dá vontade de aprender os detalhes técnicos do basquete e do vôlei e me
transformar num comentarista
de um desses esportes. Poderia
combinar umas aulas com o Wlamir Marques ou com o Mauricio
Jahu. São apenas momentos de
fantasias. O gostoso é ver um gol
de craque.
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