|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GRUPO C
Técnico contraria ação da CBF, que vetara a escolhida
Para amenizar tensão, Scolari paga psicóloga
DOS ENVIADOS A ULSAN
Para não ficar totalmente desamparado ao dissecar a cabeça
de seus atletas, que admitem estar
cercados de tensão e frio na barriga por conta da estréia na Copa-2002, o técnico Luiz Felipe Scolari
pagou do seu próprio bolso a assessoria de uma psicóloga.
Isso só aconteceu porque a CBF
vetou a presença de Regina Brandão, a profissional escolhida pelo
treinador, na comissão técnica da
equipe nacional.
"A CBF tem coisas em que eu
não posso me impor. Isso é um
assunto que eu não vou comentar", declarou o treinador.
Frustrada com a experiência anterior de um profissional de psicologia no time -Suzy Fleury,
com Wanderley Luxemburgo-,
a confederação comunicou a Scolari que não contrataria ninguém
para a função.
Resignado, o treinador pediu
então uma ajuda a Regina, com
quem trabalhou no Palmeiras e
no Cruzeiro, para conseguir lidar
melhor com pelo menos parte do
seu grupo de 23 convocados. Ele
próprio pagou o "free-lance".
A psicóloga já tinha, de suas
passagens por clubes de São Paulo
e Rio Grande do Sul, relatórios sobre dez jogadores (Marcos, Lúcio,
Edmílson, Roque Júnior, Juninho
e Ronaldinho, titulares amanhã,
Rogério, Júnior e Kaká).
Numa conversa de quase cinco
horas com Scolari três dias antes
do embarque da seleção para Barcelona, escala inicial do time antes
da Copa, ela repassou ao técnico
os perfis psicológicos que havia
preparado nos clubes.
"Ele anotou tudo. Às vezes, pedia para eu parar de falar para que
pudesse escrever direito", contou
Regina à Folha.
O encontro foi realizado na sede
da Orpus/Instituto de Treinamento Mental, centro especializado em psicologia esportiva que é
um QG da assessora de Scolari.
Sobre cada atleta, Regina tinha
um perfil psicológico de aproximadamente seis páginas. Com
Marcos, Júnior, e Roque Júnior,
ela trabalhou no Palmeiras, entre
98 e 99. Com Rogério, Edmílson,
Juninho e Kaká, a experiência foi
no São Paulo, entre 93 e 94. Ronaldinho Gaúcho foi "analisado"
quando estava no Grêmio, e Lúcio
enquanto defendia o Inter.
Alegando razões éticas, a psicóloga não quis fazer comentários
sobre as características de cada
atleta que passou para Scolari.
Ela revelou, no entanto, que
achou o próprio treinador um
pouco ansioso. "Não é fácil para
uma pessoa que saiu do interior
do Rio Grande do Sul, como ele,
estar na berlinda, exposto ao
mundo inteiro", disse.
Além de informações específicas sobre atletas, Regina deu
orientações gerais a Scolari. Foi
ela quem alertou o técnico para a
importância dos quartos individuais. O pedido foi aceito pela
CBF, e os jogadores não estão tendo que compartilhar seu espaço
de dormir com outro(s) colega(s),
algo usual até esta Copa.
"Estudos mostram que, após 20
dias, o que era respeitado no companheiro vira fonte de irritação",
justifica a psicóloga, que deverá
ser consultada novamente pelo
técnico durante o Mundial.
"Vamos manter contato à medida que eu for treinando e for
vendo as dificuldades, até que
ponto eu posso chegar, o que eu
posso exigir de um jogador", afirmou Scolari.
Supersticioso e grande adepto
do uso da psicologia no esporte,
ele costuma chamar profissionais
de diversas áreas para dar palestras sobre motivação aos atletas.
Também gruda nas paredes de
concentrações trechos "fortalecedores" de livros. Para a Copa, levou "A Arte da Guerra", do chinês
Sun Tzu, que ensina como bater o
inimigo usando mais o intelecto
do que a força.
Lágrimas
A birra da CBF com psicólogas
surgiu após a Olimpíada de
Sydney, em 2000. Após a eliminação do Brasil por Camarões, Suzy
Fleury, que exercia a função, ficou
totalmente abalada e chorou mais
que qualquer jogador ou integrante da delegação.
Comparou a derrota à perda da
família num acidente.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO
BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)
Texto Anterior: Grupo C: Governo chinês controla lista de torcedores Próximo Texto: Ansiedade é maior obstáculo, dizem atletas Índice
|