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entrevista
"Decisão de sediar Jogos exige debate"
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada
(Ipea) lançou ontem um
estudo no qual detalha o
impacto da Olimpíada sobre a economia nacional.
O texto se debruça sobre
os casos de Barcelona-92,
Sydney-00 e Pequim-08.
A pesquisa conclui, entrou outros aspectos, que
"a decisão de direcionar
um volume enorme de recursos para uma cidade
pode significar a privação
de outras e alimentar desigualdades regionais".
Em entrevista à Folha,
um dos autores do estudo,
Marcelo Proni, economista e professor da Unicamp,
sugere que haja um debate
nacional mais amplo para
legitimar a realização dos
Jogos no Rio em 2016.
FOLHA - O Rio está preparado
para sediar os Jogos sem que
haja o mesmo estouro no orçamento que ocorreu no Pan?
MARCELO PRONI - Para ganhar os Jogos, todas as cidades candidatas subestimam os gastos, mas sabem
que vão gastar mais. Londres já está estourando o
orçamento para os Jogos
de 2012. O primeiro projeto apresentado não pode
ser muito alto porque isso
é desfavorável à candidatura. O COI [Comitê Olímpico Internacional] não
pode explicitamente dizer
que o Jogos são caros.
FOLHA - Atenas-2004 ampliou gastos com segurança e
reduziu receitas com turismo.
Como o Rio convive com problemas de segurança, não é
provável que isso se repita?
PRONI - O déficit de Atenas-2004 é quase igual aos
gastos com segurança. A
Olimpíada pode fortalecer
a imagem de cidade segura
para o turismo, mas acho
que o Rio deve combater a
violência independentemente dos Jogos.
FOLHA - Um estudo do banco
Morgan Stanley afirma que o
impacto dos Jogos no PIB nacional é menor se a cidade-sede se situa em um país grande.
Sendo assim, é provável que a
Rio-2016 não tenha grande influência na economia do país?
PRONI - Sim, mas vai haver um grande impacto na
economia local, assim como foi em Sydney-2000.
FOLHA - Seria uma irresponsabilidade do governo federal
investir tanto para desenvolver uma economia local?
PRONI - Não diria isso. O
que legitima a decisão de
sediar os Jogos não pode
ser baseado só em cálculos
econômicos. Talvez seja
estratégico para o governo
brasileiro, em termos de
relações internacionais,
sediar a Copa e a Olimpíada. Mas, como é um projeto muito grande, é necessário que a sociedade seja
ouvida e que as decisões
sejam transparentes.
FOLHA - Seria interessante
para o Rio dividir com outras
cidades próximas a realização
de algumas competições?
PRONI - Perante o COI, é
um trunfo para o Rio concentrar espacialmente as
competições. Mas, para
ganhar apoio nacional, seria mais interessante que o
Rio dividisse essa responsabilidade com outras cidades. Seria muito legal se
a gente transformasse os
Jogos em um evento do
Brasil e não apenas do Rio.
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