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Tsukahara dita Japão e Pequim
Mito japonês comanda hoje os rumos da ginástica em seu país e se faz presente em séries olímpicas
Após eternizar movimento, hoje presente em quase todos os aparelhos, ele tenta, como dirigente, elevar resultados dos compatriotas
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Ele não foi o ginasta que mais
medalhas obteve em Jogos
Olímpicos. Mas, de alguma forma, estará presente em boa
parte das séries que colocarão
atletas no pódio de Pequim.
O japonês Mitsuo Tsukahara,
60, é o criador do movimento
batizado com seu sobrenome,
uma acrobacia que hoje é executada em praticamente todos
os aparelhos. E cujas variações
integram as rotinas de vários
competidores.
Dono de cinco ouros olímpicos, ele dedicou a vida toda à
modalidade. Começou como
atleta, foi técnico e hoje ocupa a
vice-presidência da Federação
Japonesa de Ginástica.
Casado com uma ex-treinadora da seleção nacional e proprietário do centro de treinamento de onde saíram 5 das 6
titulares da equipe japonesa em
Pequim-2008, ele também já
viveu a experiência de ver o filho, Naoya Tsukahara, disputar
três Olimpíadas e conquistar a
medalha de ouro por equipes
há quatro anos, em Atenas.
Em ação, orientando ginastas ou traçando o planejamento
da seleção de seu país, este japonês de 1,67 m e riso fácil participou de todas as edições dos
Jogos desde 1968 (exceto Moscou-1980, pelo boicote de seu
país ao evento soviético).
"Tenho como filosofia de vida sempre buscar um novo desafio, encarar as dificuldades de
forma positiva. E talvez achar
soluções inéditas, como o movimento que criei. A vida não
pára, e procuro agir de acordo
com isso, sem nunca desistir",
responde ele, ao ser indagado
se alguma vez se cansou da ginástica, esporte em que começou aos 13 anos de idade.
Como atleta, essa motivação
era refletida na busca pela inovação. "Queria novas técnicas e
ia atrás do inédito, de movimentos que nunca tinham sido
feitos. Felizmente consegui, e
ajudei o Japão no tricampeonato olímpico por equipes."
No último deles, em Montréal-1976, Tsukahara foi decisivo. Ele encerrou a participação da equipe na barra fixa, último aparelho da competição.
Precisava tirar no mínimo 9,5.
Conseguiu 9,9, o que deu a vantagem final sobre os soviéticos.
"Em 1982, assumi a seleção
feminina. E coloquei todo o
meu esforço em ensinar minhas técnica às garotas. Quando assumi o time, era o 12º do
mundo. Levei à sexta posição,
que é o melhor resultado da
equipe feminina até hoje. O
ponto alto desse trabalho foi
Seul-88, quando todas as atletas eram do meu centro de treinamento. Após Barcelona-92,
deixei o cargo, e os resultados
tiveram um declínio."
Depois, já na condição de responsável pelo planejamento
técnico da federação, ele resolveu inovar de novo. E comprou
briga com boa parte da comunidade da ginástica de seu país.
"Obviamente eu queria o melhor para o meu filho Naoya.
Estava mergulhado em outras
atribuições e não podia acompanhar seu treinamento de
perto. Na época [meados dos
anos 90], o nível técnico do Japão não era mais o melhor do
mundo", lembra ele.
A solução foi "importar" um
técnico para treinar Naoya.
"Primeiro, veio um chinês, que
trabalhou com ele durante cinco anos. Então o chinês retornou ao seu país, e recebi uma ligação do [ex-adversário russo]
Nikolai Andrianov, que ocupou
a vaga e permaneceu no Japão
até os Jogos de Sydney."
No momento, Tsukahara
conta que sua meta é fazer com
que a equipe masculina repita a
hegemonia do time que integrou nos anos 60 e 70.
"Acho que eles têm condições de igualar o que fizemos. É
uma geração talentosa. Meu
maior feito como dirigente foi
ter planejado a programação do
time campeão em Atenas."
Ele diz esperar de Diego
Hypólito "uma performance
excelente em Pequim".
E conta ter ficado surpreso
ao saber das declarações de
membros da delegação brasileira, sobre o esquema organizado por ele para receber a
equipe no Japão. "É a maneira
japonesa de receber. Não fiz
nada demais, só nossa praxe."
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