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"Ainda não me sinto à vontade"
Técnico Cuca, do Santos, diz que até agora só fez colegas no clube e que espera que virem amigos
De volta à zona do descenso
no Brasileiro, time pega o
Coritiba na Vila Belmiro
com seu treinador ainda
sob muita pressão no cargo
RICARDO VIEL
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
Há menos de dois meses no
Santos, o técnico Cuca, 45, já
teve que enfrentar dificuldades
dentro e fora de campo. Confronto com jogadores, pressões
internas e a falta de resultados
o levaram à demissão, ou, em
suas palavras, à entrega do cargo. Passado o momento mais
turbulento, o treinador reconhece que ainda não se sente
"totalmente à vontade no clube" e que a amizade que busca
com atletas e funcionários é algo que requer tempo. "A gente
aqui é hoje companheiro de
equipe, colega. Se Deus quiser,
vamos ser amigos."
FOLHA - O Santos conquistou 9
pontos dos últimos 12 que disputou.
O pior já passou?
CUCA - Não acabei com as minhas dificuldades ainda. Estou
traçando o caminho e descobrindo maneiras para diminuir
essas dificuldades que existem
dentro e fora de campo. Acho
que, para uma pessoa ser bem-sucedida, o primeiro passo é se
sentir bem e se sentir dentro do
local que está. Demorei um
pouco para entrar.
FOLHA - Tem jogadores no Santos
que não se sentem bem?
CUCA - Pode ocorrer. Às vezes o
jogador fica seis meses, um ano
no clube e não se sente em casa,
vai para outro time e arrebenta.
De repente tem jogador que
não está se sentindo bem aqui.
Quando você faz remontagem
em equipe, desagrada a muita
gente. Isso tudo requer um
tempo de encaixe. Ainda sinto
que posso encaixar mais aqui
no Santos. Não estou totalmente à vontade como eu pretendo
estar. Isso acontece gradativamente, à medida que vai pegando confiança, as pessoas vão
confiando em você.
FOLHA - Acredita que fez o certo
em se demitir?
CUCA - Foi uma maneira de eu
passar para o presidente meu
descontentamento, e o direito
que ele tinha de mudar, porque
as coisas não estavam boas como eu queria. O time não estava jogando bem e não havia
perspectiva de mudança. Melhorou. Não sei se foi por aquilo
[a demissão] ou pela conversa
que tive com o grupo, quando
expus meus sentimentos. As
coisas melhoraram e estão melhorando. A gente hoje está
criando um vínculo maior com
os jogadores.
FOLHA - O estilo do Leão [ex-técnico do Santos] era mais durão. O seu
parece ser mais amigo, é assim?
CUCA - Eu gosto sempre de ter
amizade, com respeito e desde
que haja hierarquia. Gosto de
brincar, de ser amigo, de participar, fazer churrasco...
FOLHA - É difícil encontrar esse
meio-termo entre o chefe e o amigo.
Não podem acontecer exageros?
CUCA - Existem desencontros
de opiniões. No Parque Antarctica, [jogo contra o Palmeiras]
teve um desencontro com o
Molina, que não entendeu a
substituição. É difícil, no calor
do jogo, entender. O que não
pode é passar do limite. Ele esteve no limite, não houve desrespeito. Falaram em tapa, xingamento, esteve muito longe
disso. Se tivesse, teria tomado
uma atitude imediata. Ele chutou um copo de água. Ele é cara
de personalidade forte, mas é
educado. No outro dia, reconheceu o erro para o grupo.
FOLHA - Um grupo pode funcionar
sem essa amizade que você busca?
CUCA - Pode acontecer, mas
não me satisfaz. Acho que,
quando tem a alegria, é mais fácil. Mas tem que ter aceitação,
jogar, ficar no banco...
FOLHA - Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
CUCA - Eu não leio jornal, não
escuto rádio e não vejo TV,
principalmente quando não
venço. Quando tem um jogo
bom, aí dou uma olhadinha.
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