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FUTEBOL
Resultado x Espetáculo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O técnico Péricles Chamusca, do São Caetano, disse
que "o futebol hoje é competitivo,
e quem quiser espetáculo que vá
ver o show da Ivete Sangalo".
Com essas palavras, Chamusca
demonstra que não tem sensibilidade e conhecimentos para ser
um ótimo treinador e que nem
é um grande apreciador de espetáculo.
O técnico que diz aos seus atletas para escolherem entre o futebol de resultados e o de espetáculo
deveria abandonar a profissão e
ser um burocrata.
Todos os atletas e as equipes do
mundo, em todas as épocas, jogam para vencer. Os que têm talento também dão espetáculo. Os
que não têm, às vezes ganham títulos, geralmente em campeonatos mata-mata.
O futebol do passado era, na
média, mais bonito por causa do
estilo mais cadenciado e de menos contato físico, e não porque os
jogadores e os times entravam em
campo somente para dar show.
O futebol somente tático e de
marcação, sem improvisação, habilidade e inventividade, é chato,
medíocre e ineficiente.
Por outro lado, o time que tem
bons jogadores, mas não vibra,
não marca nem tem disciplina tática, não é um grande time. Isso é
uma coisa. Outra totalmente diferente e absurda é dizer que o futebol bonito é incompatível com a
eficiência.
A seleção brasileira de 82 não
perdeu porque quis dar espetáculo e pensou pouco no resultado.
Ela não foi campeã porque num
jogo é comum o pior ganhar do
melhor. Se fosse por pontos corridos, o Brasil ganharia o título
com uma grande vantagem.
Outra mentira é que a história é
sempre contada pelos vencedores.
As excepcionais seleções húngara
de 54, holandesa de 74 e brasileira
de 82 perderam e são lembradas e
endeusadas até hoje.
Um dos motivos da diminuição
de público nos estádios brasileiros
é a má qualidade do espetáculo.
Há um grande número de torcedores que querem ver bons jogos,
e não apenas torcer pelos seus times. Espetáculo ruim significa
menos público e dinheiro para
pagar jogadores e técnicos, como
Chamusca.
Mas aí entra a maquiavélica
pergunta: "Se tiver de escolher, é
melhor jogar feio e vencer ou jogar bonito e perder?".
Não existe essa escolha. Como
comentarista, não posso dizer,
simplesmente, que um time ganhou porque jogou feio ou perdeu
porque jogou bonito. Aí, teria
também de mudar de profissão.
Brilho dos brasileiros
No meio de semana, os jogadores brasileiros que mais brilharam na Copa dos Campeões da
Europa foram Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Roberto Carlos.
Ronaldinho Gaúcho deu outro
show. Desse jeito, vai ser fácil a escolha de melhor do mundo. No
Barcelona, Ronaldinho é um atacante que recua, e não um armador que avança. São situações parecidas, mas diferentes. Mais perto da área, ele é mais decisivo e fenomenal. Por esse motivo e, principalmente, por ser o grande craque do time e ter mais liberdade
de inventar, Ronaldinho tem jogado mais no Barcelona do que
na seleção.
Adriano é talvez o melhor finalizador do mundo, principalmente de fora da área. As suas bombas são ainda mais fortes e certeiras do que as do Rivaldo. O Brasil
não depende mais tanto do Ronaldo, como ocorreu nas Copas
de 1998 e 2002.
Roberto Carlos jogou muito
bem, fez um belíssimo gol e celebrou as pazes com a torcida do
Real Madrid. Uma antiga e ótima
relação afetiva e de cumplicidade
não pode acabar tão rapidamente por causa de pequenos deslizes
e irritações verbais.
Sem falsa modéstia
Ao anunciar a sua partida de
despedida internacional nos Estados Unidos, Romário disse que
é o jogador mais importante do
Brasil após a Copa de 70. Além
dele, incluiria Ronaldo e Zico.
Não sei qual foi o melhor, mas o
que mais me arrepiou foi o Romário. Ronaldinho Gaúcho tem
tudo para ter o mesmo conceito
nos próximos anos.
Os grandes momentos do Romário em clubes foram no exterior, numa época em que os jogos
eram pouco vistos no Brasil.
Romário atua há muitos anos
como um veterano em final de
carreira. Por isso, muitos jovens
acham que ele foi apenas um artilheiro. Temo que essa imagem
distorcida fique na história, o que
seria uma grande injustiça contra
um dos maiores talentos de todos
os tempos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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