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FUTEBOL
Afilhado de Farah recebeu por negócios que não fez
Amigo de dirigente amealhou R$ 2,2 milhões em acordos da TV
Globo afirma que negócios com federação não têm intermediários
Presidente da FPF, padrinho de casamento de empresário, cala
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
"Ético é relativo. Vossa Excelência não pode fazer negócios com
inimigos. É melhor fazer negócios
com amigos e conhecidos."
A frase, um depoimento à CPI
do Futebol, é de Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista e da Liga Rio-São Paulo.
E não é apenas discurso. Em
2000, o cartola mais poderoso do
Estado agraciou um afilhado com
R$ 2,2 milhões pela intermediação de dois contratos entre a TV
Globo e a FPF, parceiras desde a
década de 70.
Oito meses após a conclusão
dos trabalhos da CPI, um fato novo só faz aumentar a suspeita dos
senadores de que Farah desviou
indevidamente recursos da entidade para beneficiar seu amigo.
O principal executivo da Globo
Esportes, Marcelo de Campos
Pinto, disse à Folha que o amigo
apontado por Farah, o empresário Bruno Balsimelli, jamais participou da elaboração dos acordos.
"Posso afirmar com todas as letras que ninguém intermedeia nenhum contrato da Globo", disse
Campos Pinto, responsável desde
1997 pelos acordos da emissora
relativos ao futebol.
Mas o negócio celebrado entre a
FPF e a B&B Comunicação Visual
S/C Ltda., empresa de Balsimelli, é
claro sobre o motivo do pagamento. Diz o contrato firmado
em 3 de janeiro de 2000, a que a
Folha teve acesso:
"A B&B neste ato é intermediário na apresentação à Federação
da empresa TV Globo Ltda., na
qual firmou contrato de publicidade estática no valor de R$ 6 milhões e de dois milhões de ingressos no valor de R$ 10 milhões para
o Campeonato Paulista de 2000. A
Federação, pela intermediação,
pagará à B&B o montante de 10%
sobre o valor total, equivalente a
R$ 1,6 milhão."
Um ano depois, a B&B voltou a
ser agraciada pela confecção de
um contrato entre a mesma Globo e a FPF. Pela compra dos direitos de exploração da publicidade
estática da competição estadual, a
emissora pagou R$ 6 milhões à federação. Balsimelli recebeu outros R$ 600 mil pela suposta nova
intermediação.
Sem intermediário
Procurado pela reportagem para falar sobre o assunto, Campos
Pinto mostrou-se surpreso ao receber a informação de que o afilhado de Farah havia sido remunerado pela eventual intermediação dos dois contratos com a TV.
E declarou o seguinte:
"A Globo é uma empresa nova?
A federação é nova? Os contratos
da Globo com a federação são novos ou antigos? Então, olha que situação esdrúxula. A Globo tem
contratos de transmissão dos
eventos por TV com a federação
firmados há anos, desde a década
de 70. Um dia a Globo vai à FPF e
diz que quer comprar as placas do
Paulista. Você acha que eu preciso
de intermediário? Jamais usamos
o Bruno [Balsimelli] para qualquer tipo de intermediação. Não
precisamos. E nem ele [Farah]
precisaria de apresentação para a
Globo. A gente está sempre lá."
Há ainda outros pontos obscuros nos acordos em que a federação se prontificou a dar R$ 1,6 milhão ao afilhado de Farah:
1) O contrato FPF-B&B é posterior ao firmado com a emissora
(foi assinado em 3 de janeiro de
2000, enquanto o acordo com a
emissora foi celebrado em 16 de
dezembro de 1999);
2) O compromisso com Balsimelli não foi registrado em cartório e não apresenta a assinatura de
nenhuma testemunha;
3) Nenhum representante da
Globo rubrica ou assina o contrato FPF-B&B;
4) O acordo regia que a B&B receberia o valor em quatro parcelas
mensais de R$ 400 mil, a partir de
20 de janeiro de 2000, mas a entidade quitou o débito de uma vez
só, em 27 de janeiro.
Foram duas transferências no
mesmo dia, uma de R$ 1,2 milhão
e outra de R$ 400 mil.
O presidente da federação tem
sido procurado para falar sobre o
assunto desde o início da semana
passada. Farah se recusou a receber a reportagem na sede da FPF.
Na quinta-feira, a Folha encaminhou perguntas sobre o caso
por fax, conforme solicitação de
sua assessoria. Até o fechamento
desta edição, não havia obtido
resposta. Na CPI do Futebol, que
funcionou no Senado entre outubro de 2000 e dezembro de 2001, o
dirigente disse que não via problema na relação com Balsimelli.
A reportagem também procurou o empresário para ouvir sua
posição. Deixou recado com sua
secretária na BWA, uma de suas
empresas em São Paulo, e em seu
celular, mas não obteve retorno.
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