São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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FUTEBOL

Apesar da série de acusações que tem recebido, presidente comemora vitória no Comitê Executivo da Fifa

Torpedeado, Blatter consegue impor seu sistema eleitoral

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bombardeado por uma série de acusações, entre as quais suspeita de compra de votos em 1998, malversação de verbas e abuso de poder, Joseph Blatter pode ter ficado com sua imagem ainda mais desgastada publicamente, mas saiu fortalecido da reunião do Comitê Executivo da Fifa, realizada anteontem em Zurique.
A principal vitória do suíço, além do adiamento dos trabalhos da auditoria que investiga suas ações como presidente, foi na definição do sistema de votação do próximo dia 29, em Seul, onde concorre à reeleição contra o candidato africano Issa Hayatou.
Metade dos 24 membros do Comitê Executivo queria que apenas um delegado por país fosse à urna depositar o voto de sua federação. A outra metade defendia que fossem três delegados por país. O voto de minerva coube a Blatter, que optou pela primeira alternativa, a defendida por seu grupo, liderado pelo argentino Julio Grondona.
A discussão não é nova. Em 1998, quando Blatter concorreu contra Lennart Johannson para ocupar o lugar de João Havelange, brasileiro de quem era o braço direito na Fifa, apenas um delegado por país -e não três, como queria a oposição- dava o voto representando sua federação.
Moral da história: é maior a chance de suborno, acusaram os defensores de Johannson em 1998 e acusam agora os de Hayatou. Eles raciocinam que é mais fácil comprar o voto de apenas um delegado do que de três.
Em 1998, houve a suspeita de que 16 delegados africanos pudessem ter sido subornados, dando os votos necessários para Blatter vencer as eleições -o caso está sendo investigado na África.
Segundo Michel Zen-Ruffinen, secretário-geral da Fifa e ex-aliado do atual presidente por 16 anos, pelo menos dois votos foram comprados -no momento um dos maiores desafetos de Blatter, ele fala em um delegado do continente africano e em outro da América Central.
""Não foi um problema de o presidente ter sido comprado, mas sim de ele ter comprado [votos"", afirmou Zen-Ruffinen, numa entrevista num hotel de Zurique, para o qual se dirigiu anteontem sozinho, sem a cúpula da Fifa, após ter dado declarações na sede da entidade ao lado de Blatter.
Demonstrando irritação com as decisões do Comitê Executivo, entre as quais a continuação da auditoria sobre as contas da Fifa apenas após a Copa e as eleições, o secretário-geral deu a entender que deve levar o dossiê que tem contra Blatter para a Justiça suíça. ""Tenho provas de atos que são considerados delitos pela legislação suíça", comentou Zen-Ruffinen. ""Ela deve investigar e fazer o que achar necessário."
A tática de Zen-Ruffinen, apoiado por Hayatou, Johannson e Chung Mong-joon, sul-coreano que faz campanha contra Blatter na Ásia, é fazer o máximo de barulho possível para enfraquecer ainda mais a imagem pública do dirigente, já que dentro do Comitê Executivo o presidente retomou o poder sobre a oposição.


Com agências internacionais



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